O tempo passou e talvez você nem tenha percebido, mas faz um ano que o 5G puro chegou ao Brasil. A rede móvel de quinta geração promete mais velocidade e conexão estável para dispositivos da chamada Internet das Coisas, como máquinas diversas e carros inteligentes. No entanto, a tecnologia está longe de ser popular no país. Ela representa apenas 10 milhões de acessos no país, contra 196 milhões da rede 4G. Por outro lado, a adesão está sendo mais rápida do que em transições anteriores.
Breve história do 5G no Brasil
O edital do leilão da Anatel previa que todas as capitais brasileiras deveriam ter tecnologia 5G Standalone até julho de 2023. No entanto, o cronograma sofreu atrasos: a frequência de 3,5 GHz era ocupada pela TV aberta via satélite (TVRO), e a falta de equipamentos obrigou a flexibilização na agenda.
A primeira cidade brasileira a receber o 5G puro na frequência de 3,5 GHz foi Brasília (DF), em 6 de julho de 2022. Aos poucos, as operadoras ganharam aval da Anatel para ativar a tecnologia em outras capitais – em São Paulo, por exemplo, a quinta geração estreou em 4 de agosto. Os compromissos de cobertura só foram plenamente cumpridos em outubro de 2022.
O cronograma da Anatel exigia que as operadoras instalassem nas capitais pelo menos uma antena 5G para cada 100 mil habitantes no ano de 2022. A meta é progressiva até julho de 2029, quando as teles serão obrigadas a manter uma antena para cada 15 mil habitantes em todos os municípios com mais de 30 mil habitantes.
O 5G cresceu, mas ainda é para poucos
Ao menos nessa fase inicial de implantação, o 5G é para poucos. A cobertura é muito aquém do que estamos acostumados no 4G e tecnologias anteriores. Em muitas cidades, as operadoras oferecem a internet móvel de quinta geração apenas em alguns bairros.
De acordo com os dados da Anatel, existiam 10,08 milhões de acessos via 5G no país em maio. É incomparável com o 4G, que é mais antigo e atualmente está em 196 milhões de acessos. Já as redes 2G e 3G somam 45 milhões.
Ainda assim, a adoção do 5G está mais rápida que no 4G. Nove meses após o início da implementação, o Brasil alcançou 8 milhões de dispositivos 5G. Na geração anterior, a mesma marca foi atingida somente após um ano e meio. Muito dessa popularização ocorre graças às crescentes opções de smartphones compatíveis, visto que vários modelos básicos já suportam o novo padrão.
A Anatel já licenciou 12,5 mil estações 5G, localizadas em 184 municípios. É bem pouco quando consideramos que o 4G tem mais de 82,8 mil estações. A maioria das antenas se concentra nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Atualmente, a TIM é a operadora que lidera em número de estações rádio-base de quinta geração, com ampla diferença frente à Claro e Vivo.
Quem tem um smartphone compatível e está na área de cobertura consegue desfrutar de velocidades altíssimas e uma boa experiência de uso da internet móvel. Claro, TIM e Vivo permitem que seus clientes utilizem o 5G Non-Standalone sem custo adicional. Não dá para dizer o mesmo do 5G SA: muitos usuários encontram restrições de planos, compatibilidade de aparelho e de chip para utilizar a versão mais recente da quinta geração.
Além disso, o uso industrial do 5G ainda engatinha — não somente no Brasil, mas também em outros países onde a tecnologia foi inaugurada há mais tempo. Parece que ainda estamos longe de ver as cidades conectadas, cirurgias remotas, agro inteligente e indústrias automatizadas que tanto nos prometeram.
Operadoras se queixam da legislação
A Anatel já fez a limpeza de faixa de 3,5 GHz em 1.610 municípios. Isso significa que Claro, TIM e Vivo estão liberadas para comercializar o serviço de quinta geração para 66,4% da população brasileira. Cada operadora segue sua estratégia de cobertura.
Para o 5G funcionar bem, é necessário que as operadoras instalem mais antenas. A frequência de 3,5 GHz tem capacidade maior que as faixas utilizadas pelas tecnologias anteriores, mas possui menor penetração de sinal, o que exige mais infraestruturas.
Por esse motivo, apenas a limpeza de faixa não é suficiente. De acordo com a Conexis, entidade que representa as operadoras de telefonia móvel, somente 25% das cidades com mais de 200 mil habitantes possuem legislação municipal e processos que favorecem a instalação do 5G.
A legislação atrasada das cidades também preocupa o governo federal, que se comprometeu a debater com os municípios sobre a necessidade de modificar as leis. Segundo o Ministério das Comunicações, 66% da população brasileira reside em municípios que não atualizaram a regulamentação para permitir a ampliação de antenas de telefonia móvel com as especificações exigidas pela tecnologia 5G.