
A Instituição Fiscal Independente (IFI), organização do Senado, projeta um déficit primário de R$ 64,2 bilhões este ano, o equivalente a 0,51% do PIB — mas considera que a meta fiscal de resultado primário zero pode ser cumprida, desde que considerados os abatimentos legais previstos e a margem de tolerância do novo arcabouço fiscal. Segundo a IFI, a meta só será tecnicamente alcançada com o desconto de despesas com precatórios e outras previsões legais em vigor.
Para o ano que vem, o IFI projeta um déficit primário de R$ 128 bilhões (0,95% do PIB) em 2026, acima da meta de superávit de 0,25% do PIB. Mesmo com as deduções previstas no arcabouço, seria necessário um esforço adicional de R$ 72,3 bilhões para atingir a meta.
– O quadro para 2026 é mais difícil, impondo um desafio maior em relação ao incremento das receitas, em um contexto de PIB e inflação em retração. E ainda sem incorporar os eventuais efeitos da atual guerra comercial no cenário global – alertou o diretor-executivo da instituição, Marcus Pestana, em nota.
Além disso, a partir de 2027, as despesas com precatórios voltam a ser computadas integralmente para apuração da meta fiscal, o que tende a pressionar ainda mais o resultado primário dos próximos anos.
A projeção da IFI para a receita primária líquida da União mostra uma tendência de leve queda: de 18,4% do PIB em 2024 para 18,3% em 2025 e 18,2% em 2026. A estimativa contrasta com os números do Orçamento sancionado para este ano, que, segundo a instituição, superestimam a arrecadação em R$ 54 bilhões — diferença que sobe para R$ 86,1 bilhões quando consideradas as chamadas receitas extraordinárias.
O diretor Alexandre Andrade aponta como principais fontes de incerteza as negociações em torno do Carf, as transações tributárias, mudanças na CSLL e no IR sobre Juros sobre Capital Próprio, variações nos royalties do petróleo e a ausência de compensações efetivas à desoneração da folha.
A expectativa da IFI para o PIB é de crescimento de 2% em 2025, com desaceleração para 1,6% em 2026, impactado por renda disponível menor e política monetária ainda restritiva. O cenário global também impõe riscos, com os possíveis efeitos da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos ainda sendo avaliados, afirma a IFI.
Já a dívida bruta do governo geral deve alcançar 79,8% do PIB em 2025 e subir para 84% em 2026, segundo a instituição.
– A IFI reforça o alerta para o risco fiscal futuro, visto que o atual arcabouço não está resultando no estancamento do processo de crescimento da dívida pública brasileira – afirmou Marcus Pestana.