Com lançamento neste sábado (6) em SP, livro resgata trajetória de varão trans e denuncia transfobia no Brasil

A jornalista e escritora Bianca Vasconcellos lança, neste sábado (6), em São Paulo, o livro Morro Guloseima, uma obra que mistura reportagem, memória e literatura para relatar a história real de Apolo Pinho, artista e varão trans que enfrentou a violência da transfobia no Brasil. A obra é fruto de uma convívio intensa entre a autora e o personagem, e ganhou contornos ainda mais íntimos em seguida a morte precoce de Apolo, aos 29 anos, em 2018.

“Eu não tenho lugar de fala, pois não vivi a transexualidade que ele viveu, mas tenho lugar de escuta”, afirma Vasconcellos, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Indumento. “Íamos fazer um livro-reportagem. Quando ele morre, decido fazer na primeira pessoa com ele, ouvir todos os áudios dele para ir construindo essa narrativa”, revela.

O livro mergulha na vivência de Apolo, desde o início da transição de gênero até o enfrentamento das múltiplas violências sociais, institucionais e médicas, que pessoas trans ainda enfrentam no país que lidera o ranking mundial de assassinatos dessa comunidade. “Era uma pessoa com tanta vontade, disponibilidade e coragem de fazer a transição para um gênero ao qual ele se reconhecia no espelho e, ao mesmo tempo, diante de tantas portas fechadas”, relata.

Com trechos sensoriais e detalhados, Morro Guloseima constrói uma narrativa visceral, onde a vaidade de Apolo durante a transição, marcada por libido, dor e esperança, é atravessada por pesquisas minuciosas sobre o uso da testosterona. A autora chegou a acompanhá-lo nas idas à farmácia para fazer as aplicações dos hormônios, narradas no primeiro capítulo do livro.

“Essas pessoas que não têm moeda fazem a transição sem comitiva médico específico, um endocrinologista apoiando as aplicações de hormônio; não têm psicólogo para falar daquela disforia, do desconforto de estar no gênero da constituição biológica ao qual nasceu. É muita informação, um turbilhão que eu acompanhei desde o primórdio até a morte dele”, conta. Segundo a Associação Vernáculo de Travestis e Transexuais (Antra), a expectativa de vida da população trans no Brasil é de 35 anos.

A publicação será lançada neste sábado (6), às 15h, na Livraria da Vila, em São Paulo.

Para ouvir e testemunhar

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Indumento, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Indumento.