Claudia Soares Alves, neurologista, também responde por sequestro de recém-nascida; Justiça negou pedido de liberdade.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) concluiu o inquérito que apura o homicídio da farmacêutica Renata Bocatto Derani, morta a tiros em novembro de 2020 em Uberlândia (Triângulo Mineiro), e indiciou a médica neurologista Claudia Soares Alves como mandante do crime. A investigação identificou provas de que a médica planejou a execução da vítima em razão de motivações pessoais — em especial o desejo de assumir a guarda da filha da vítima, fruto de um relacionamento entre Renata e o ex-marido de Claudia.
Segundo a PCMG, o crime foi cometido quando Renata chegava para trabalhar em uma farmácia localizada na região da cidade. Um homem, identificado como vizinho de Claudia, abordou a farmacêutica e entregou uma carta junto com um objeto ofensivo antes de efetuar múltiplos disparos contra ela. Renata não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
O inquérito concluiu ainda que Claudia não apenas articulou a execução, mas também tentou forjar um álibi, adulterando documentos e falsificando um prontuário médico. A defesa de Claudia teria registrado uma ata notarial de consulta que, segundo a perícia, não ocorreu no horário do crime.
Além de homicídio qualificado por motivo torpe, emboscada e pagamento, a médica foi indiciada pelos seguintes crimes:
Fraude processual
Uso de documento falso
Adulteração de sinal identificador de veículo automotor
O vizinho que executou os disparos também foi indiciado pelos mesmos crimes relacionados ao homicídio.
O material probatório foi remetido ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e, posteriormente, à Justiça. Ambos os indiciados permanecem presos preventivamente — Claudia na Penitenciária Professor João Pimenta da Veiga e o executor no Presídio Professor Jacy de Assis, ambos em Uberlândia.
Motivação: disputa pela guarda da filha
Conforme apurado, Claudia teria se relacionado com o ex-marido de Renata por cerca de dois meses antes do término do relacionamento. Depois da separação, o pai passou a ter restrições impostas por Renata quanto à convivência com a filha enquanto ele mantivesse contato com Claudia. A investigação aponta que essa dinâmica teria alimentado um comportamento obsessivo da médica em relação à maternidade e à guarda da menina — motivação que culminou, segundo a polícia, no planejamento do homicídio.
O caso ganhou repercussão nacional em 2024, quando Claudia foi presa em Itumbiara (GO) após sequestrar uma recém-nascida de uma maternidade do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU). Na ocasião, ela se passou por pediatra, usou seu crachá para entrar na unidade e retirou a criança sob o falso pretexto de exames, fugindo com a bebê. A menina foi posteriormente resgatada pelas autoridades.
Esse episódio integra outro inquérito que a acusa de tráfico de pessoas e falsidade ideológica. A defesa da médica chegou a alegar que o sequestro ocorreu em meio a um suposto surto psicótico, embora a Polícia Civil mantenha a interpretação de premeditação.
No início de dezembro de 2025, a defesa de Claudia apresentou recurso ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) pleiteando liberdade provisória ou medidas cautelares diversas da prisão. A justificativa incluiu argumentos sobre suposta falta de fundamentação na prisão preventiva. Contudo, o desembargador responsável negou o pedido, ressaltando a gravidade dos crimes, o risco à ordem pública e o potencial de obstrução da investigação caso a prisão fosse revogada.
O habeas corpus, de caráter liminar, ainda será analisado pela 6ª Câmara Criminal do TJMG, conforme previsto nos trâmites judiciais.