Honda lança divisão de clássicos e o 1º beneficiado será o lendário NSX

Poucos dias depois de as italianas JAS Motorsport e Pininfarina terem anunciado que fariam 35 restomods a partir do NSX da década de 1990, agora é a vez de a própria Honda Motor Co., Ltd. valorizar sua história. A companhia divulgou que, a partir de 1º de abril de 2026, entrará em operação o Honda Heritage Works, uma divisão dedicada à restauração e ao fornecimento de peças genuínas para carros clássicos da marca japonesa — começando pelo marcante NSX de primeira geração.

A ideia é garantir que seus modelos históricos continuem rodando em boas condições por muito tempo. O pacote reúne dois serviços: o Honda Heritage Parts, responsável por produzir novamente componentes há muito fora de catálogo, e o Honda Restoration Service, que assumirá o trabalho de restauração mais profunda dos esportivos antigos. Ambos estreiam atendendo ao NSX original, com expansão prevista para outros Honda e Acura esportivos.

A marca explica que, apesar de manter por anos o fornecimento de peças genuínas para carros fora de linha, muitos itens se tornaram difíceis de produzir. A solução foi firmar novas parcerias, rever processos e adotar materiais e métodos modernos para recriar componentes descontinuados como peças genuínas compatíveis. Outras serão refeitas exatamente como as originais, usando os mesmos materiais e técnicas, e vendidas mundialmente como peças de reprodução. A lista de itens disponíveis está no site recém-lançado do Honda Heritage Works, e pedidos poderão ser feitos nas concessionárias japonesas a partir de abril de 2026.

Entre as peças originais há desde bloco de motor e comandos de válvulas até peças da forração. Já as refeitas com materiais modernos incluem engrenagens de comando e buchas, por exemplo.

O serviço de restauração reformula o Plano de Renovação dos NSX, disponível desde 1993. O conceito permanece o mesmo: recuperar com fidelidade as características dinâmicas originais do modelo. O programa, porém, ganha novo fôlego: a oficina dos NSX em Takanezawa, Tochigi (antiga sede da fábrica do esportivo), será rebatizada como Honda Heritage Works Takanezawa, agora responsável por restaurações completas feitas pela própria fabricante. 

O cliente poderá escolher entre diferentes níveis de intervenção. A “básica” inclui revisão de motor, suspensão e outros itens. Já a “restauração total” acrescenta recuperação de exteriores e interiores, além de serviços mais profundos conforme o estado de cada carro. Entre as tarefas previstas estão a remoção do motor, troca de componentes da suspensão e substituição de peças de desgaste. Certamente não será barato, mas, ao fim do serviço, os técnicos avaliarão os resultados na própria pista de testes por onde o NSX passou zero-quilômetro, nos anos 1990.

As inscrições para restaurar os NSX na especificação NA1 (1990–1994) começam em janeiro de 2026 nas concessionárias Honda do Japão, com os primeiros trabalhos iniciando em abril. Procedimentos e preços serão divulgados no site oficial no início do ano. 

Com o Honda Heritage Works, a marca quer reforçar o vínculo com uma comunidade fiel, oferecendo suporte de fábrica para que seus esportivos clássicos continuem vivos, originais e prontos para mais décadas de estrada. Infelizmente a companhia não adiantou nada sobre peças para outros modelos (como os primeiros Civic) ou para suas linhas de motos.

A Mercedes-Benz foi pioneira no setor ao inaugurar, em 1993, o Classic Center de Fellbach, perto de Stuttgart, primeiro espaço dedicado de uma fabricante inteiramente voltado a restaurar clássicos com padrões de fábrica. Um de seus segredos está nos registros de produção arquivados desde 1952, o que permite confirmar matching numbers com precisão absoluta. A operação, hoje também em Long Beach, na Califórnia, inclui restaurações completas, produção de peças e venda de clássicos com garantia.

A Porsche seguiu esse conceito ao abrir, em 2007, sua Porsche Classic Factory Restoration, com bases na Alemanha (Stuttgart) e nos Estados Unidos (Atlanta). A marca oferece restaurações integrais e parciais e mantém um catálogo imenso de peças originais, muitas retrabalhadas com materiais modernos, mas aparência fiel. Oferece até retrofits, como centrais multimídia atualizadas para os primeiros modelos com esse tipo de equipamento. Há poucas semanas, a divisão anunciou que está recriando diversos tecidos nas padronagens originais usados nos 911 dos anos 80 e 90.

Já a Ferrari tem o seu Classiche desde 2006, centrado no Red Book, o certificado de autenticidade que virou referência mundial. Em Maranello, a fábrica é capaz até de fundir blocos e cabeçotes usando moldes originais, mas exige rigor: motores e câmbios não originais podem barrar a certificação.

A Jaguar Land Rover entrou forte no segmento ao abrir, em 2017, o Classic Works em Coventry, onde restaura modelos históricos e recria carros no programa “Reborn”, além de retomar a produção de peças complexas, como blocos de motores antigos.

A Lamborghini mantém o Polo Storico, em Sant’Agata, dedicado a restaurar modelos fora de produção há pelo menos dez anos e a preservar arquivos técnicos para confirmar autenticidade.

A BMW atua desde 1994 com o BMW Group Classic, em Munique, atendendo também Mini, Motorrad e Rolls-Royce, com restaurações e certificações. A Aston Martin opera o Works em Newport Pagnell, oferecendo tanto restaurações completas quanto “Continuation Cars”, réplicas fiéis de clássicos feitas do zero.

Até mesmo a Stellantis tem sua Officine Classiche em Turim, para restaurar Alfa Romeo, Fiat, Lancia e Abarth. No Japão, a Nissan reforça a linha GT-R com o Nismo Heritage, reproduzindo peças críticas e oferecendo restaurações profundas, enquanto a Mazda mantém um programa oficial para o MX-5 Miata NA, com peças reprojetadas e manuais reeditados.