
A Venezuela afirmou, nesta segunda-feira (15), que o governo Trinidad e Tobago participou do sequestro do navio petroleiro perto da costa venezuelana na semana passada.
“A primeira-ministra de Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, revelou uma agenda hostil contra a Venezuela desde sua chegada ao governo, incluindo a instalação de radares militares estadunidenses para o cerco aos navios que transportam o petróleo venezuelano”, diz um trecho da nota publicada pela vice-presidenta, Delcy Rodríguez.
Na quarta-feira (10), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou a interceptação do navio. Ao ser questionado sobre o que aconteceria com o petróleo venezuelano, Trump respondeu: “Nós ficamos com o petróleo, eu acho.” A embarcação carregava quase 2 milhões de barris de petróleo, de acordo com o presidente Nicolás Maduro.
O governo venezuelano apresentou uma denúncia formal à Organização Marítima Internacional (OMI) contra os Estados Unidos, pedindo que sejam acionados os mecanismos internacionais para garantir a liberdade de navegação e o comércio marítimo.
Como retaliação ao que Caracas classificou como “participação do governo de Trinidad e Tobago no roubo do petróleo venezuelano”, o governo Maduro anunciou a suspensão do comércio de gás com o arquipélago.
“O governo venezuelano decidiu extinguir de maneira imediata qualquer contrato, acordo ou negociação para o fornecimento de gás natural a esse país”, diz o comunicado.
Desde o início da escalada militar de Washington contra Caracas, Trinidad e Tobago, que fica a cerca de 10 quilômetros da costa venezuelana, cedeu seu território para a realização de exercícios militares do Comando Sul dos EUA.
No fim de outubro, quando os treinamentos militares começaram, Delcy Rodríguez, que também acumula o cargo de ministra de Hidrocarbonetos, já havia enviado uma proposta de suspensão dos acordos energéticos com o arquipélago.
O ministro do Interior, Diosdado Cabello, disse, durante coletiva de imprensa do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) nesta segunda-feira (15), que a primeira-ministra do arquipélago coloca a população do país em risco, ao estreitar os laços com militares com o governo Trump. “Essa senhora doente, com essas ações, coloca em risco as boas relações, mas também coloca em perigo o seu próprio povo.”
Segundo Cabello, o país se tornou a base de operações dos Estados Unidos na região caribenha. “Essas operações que vêm sendo realizadas no Caribe tiveram sua base de operações em Trinidad e Tobago. Agora, atentam contra o nosso país, roubando os recursos que são da Venezuela. Sabemos de onde vêm os ataques, como vêm e a partir de qual base estão utilizando para atacar o nosso povo.”
Horas antes da divulgação do comunicado do governo venezuelano, o Ministério das Relações Exteriores de Trinidad e Tobago havia soltado uma nota em que reafirmou a cooperação militar com os Estados Unidos. Disse, ainda, que concedeu autorização para o uso de seus aeroportos para fins militares da Casa Branca.
“Em consonância com a cooperação bilateral estabelecida, o Ministério concedeu autorizações para que aeronaves militares dos Estados Unidos transitem pelos aeroportos de Trinidad e Tobago nas próximas semanas”, diz o comunicado.
De acordo com o próprio governo trinitense, em troca do apoio militar, Washington tem realizado investimentos no país.
“Trinidad e Tobago tem se beneficiado de exercícios conjuntos de treinamento militar, do aprimoramento das capacidades de vigilância, incluindo a instalação de um sistema de radar eficaz, e de esforços colaborativos que contribuíram para a interdição de milhões de dólares em narcóticos ilegais”, diz a nota, que fala, ainda, em “doações de equipamentos escolares e projetos de melhoria de infraestrutura”, feitas pela embaixada dos EUA no país.
Ainda nesta segunda-feira (15), a Petróleo da Venezuela (PDVSA), a estatal venezuelana de petróleo, afirmou que a empresa foi alvo de um ataque cibernético “com o objetivo de interromper sua operatividade”. A ação, segundo a denúncia, teria partido dos Estados Unidos.
“Essa tentativa de agressão soma-se à estratégia pública do governo dos Estados Unidos de se apropriar do petróleo venezuelano pela via da força e da pirataria. Vale lembrar que não é a primeira vez que o governo dos Estados Unidos, aliado a setores extremistas, tenta afetar a estabilidade nacional e privar o povo venezuelano de um período de tranquilidade nas festas de fim de ano”, diz a empresa.
Segundo a PDVSA, o ataque cibernético não afetou as operações. “Graças à perícia do talento humano da PDVSA, as áreas operacionais não sofreram qualquer tipo de impacto, tendo o ataque se limitado ao sistema administrativo.”