Sobre o medo de viver

A vida é um devir de luto. Feita de perdas. Fábrica de ansiedades. E o medo da perda nos torna havidos procrastinadores. São tantas desculpas para aquilo que eu devia ou quero fazer. Porque, pode ser que eu perca algo mais. Já perdi pessoas, empregos, festas, horas de descanso… Já perdi o café quente. E verduras da dieta na geladeira.

Meu medo, que me fecha nesse pouco que tenho sido, talvez seja, me perder agora, de mim. De como é seguro me manter em quem eu sou. O empregado, o filho não tão amado, a casada para parecer não ser só. E invento outras novas desculpas. E quem inventa, pede, insiste nas desculpas, sabe que tem falhado, muitas das vezes, miseravelmente.

Viver é um eterno devir.

A vida não tem garantias.

A vida debocha dos seus planos.

E sempre te mostra quem está na liderança. A vida é cavalo indomado. E nós, não entendemos de cavalos. Só entende de cavalos, quem estuda, quem monta, quem adestra, quem desafia os próprios medos.
E na contramão da vida está a morte.

O fim.

Eu já quis muito morrer. Aliás, eu não queria morrer. Eu queria que todo o medo, angustia, tristeza tivesse fim e morrer parecia a solução para tudo isso. Eu deixei que a doença do medo me trouxesse muitas outras. Deixei que, em algum momento, me destruísse a saúde. E o medo me paralisou muito tempo. Tempo suficiente para me perder do melhor que eu poderia ser, principalmente para mim.

Solução para o medo é atitude. Movimento, busca de autoconhecimento. Conhecimento para além de mim. Compreensão dos fatos, estabelecer limites e constância naquilo que se decide.

Quem não enfrenta o medo não cresce. Quem não cresce como pessoa é uma eterna criança mimada escondida atrás de alguém, esperando os outros prestar-lhe ajuda. Volto a repetir, ser adulto funcional requer atitude.

E volto para mim, se eu não tivesse tomado atitude, se não tivesse constância, hoje eu já teria morrido. E eu não teria comido minhas verduras, não entenderia de cafés, teria perdido a oportunidade de rir tantas vezes com as minhas amigas e não estaria hoje, me realizando profissionalmente, conhecendo e colaborando com tanta gente que sorri e agradece ao sair do meu consultório.

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