
Que o apagão em São Paulo será o principal tema do debate desta noite entre os candidatos à prefeitura no debate da Band, tanto Ricardo Nunes (MDB) como Guilherme Boulos (PSOL) já sabem. Os dois passaram o dia se preparando para explorar o tema no embate. As estratégias, porém, serão diferentes.
Enquanto Boulos deve partir para o ataque, seguindo com o tom já adotado nas redes sociais e na propaganda eleitoral, como um cidadão indignado que cobra providências da prefeitura para conter o caos na cidade, Nunes pretende se apresentar como gestor de crise, alguém que está com a mão na massa.
Isso porque as sondagens internas estariam mostrando que, enquanto os comentários negativos sobre o prefeito são sobre a necessidade de botar ordem no caos, as críticas a Boulos tem mais a ver com o que seria oportunismo e radicalismo do psolista.
De acordo com estrategistas do prefeito, a resposta de Nunes será calibrada de acordo com os ataques de Boulos. Na campanha, a ordem é o prefeito se diferenciar de Boulos dizendo que enquanto ele trabalha, o oponente só reclama. Em princípio, a ideia é só radicalizar o discurso na medida em que Boulos o fizer. A ideia, porém, é reforçar a estratégia de jogar a culpa no colo do governo federal, que concedeu a Enel o direito de explorar o fornecimento de energia.
Buraco coberto por santinhos, questões com transporte e outros acontecimentos eleitorais pelo Brasil
Quanto mais Boulos falar sobre a responsabilidade do prefeito, mais o prefeito vai empurrar a culpa para o governo federal – especificamente sobre Lula, que é o padrinho político de Boulos, e sobre ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
O ministro participou de um painel sobre energia renovável em um evento em Roma na sexta-feira, junto com o diretor da Enel para o resto do mundo, Alberto de Paoli, em que mencionou a possibilidade de renovação dos contratos com a distribuidora.
“Nós no ramo de distribuição –está aqui a Enel– permitimos e o ministro Bruno [Dantas, presidente do TCU] acompanhou de perto a antecipação dos contratos de renovação de distribuição para modernizar, para exatamente preparar a distribuição no Brasil, para digitalizar a distribuição para a gente poder recepcionar mais energia limpa e renovável […] com segurança.”
Caso Boulos enverede por cobranças ao prefeito, Nunes também pode vir a dizer que o adversário, como deputado, não trabalhou para pressionar a concessionária a melhorar seus serviços.
A escala de agressividade das respostas, porém, vai depender do tom e da conveniência de cada um. Dado que, nesse assunto, tanto prefeitura como governo do estado e federal têm sua parcela de responsabilidade, não vai ser simples para nenhum dos dois escapar das cobranças sem derrapar.