Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO, e nessa newsletter você encontra análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político.
Interrompemos a programação da newsletter e a série com estrategistas políticos para uma entrevista que não poderá esperar por mexer com a política do Rio: o vice-governador Thiago Pampolha (MDB) vem a público pela primeira vez disposto a desafiar o governador Cláudio Castro (PL) e se lançar candidato ao Palácio Guanabara em 2026. Os dois estão rompidos desde março do ano passado, quando Pampolha foi exonerado da secretaria de Meio Ambiente e deixaram de se falar.
Os planos do vice-governador atrapalham Castro e seu grupo político, que pretendem lançar o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente da Assembleia Legislativa do Rio. O governador gostaria de renunciar até 31 de março do ano que vem e queria que seu vice fizesse o mesmo, saindo, assim, da linha sucessória. Com isso, mataria dois coelhos com uma cajadada: poderia concorrer a deputado ou senador e levaria Bacellar a concorrer na cadeira de governador, o que provavelmente o tornaria mais competitivo.
A entrevista que você, leitor, acompanha agora é uma resposta de Pampolha às frases de Castro para Camila Zarur e Francisco Goes, do Valor, no último dia 14. Nela, o governador garantiu que seu vice só sentará na mais importante cadeira do Palácio Guanabara se ele “morrer ou infartar”. Blefe ou Castro realmente pode completar o mandato e sair da vida pública ao fim do seu governo? Nos bastidores, aliados sempre resgatam a história recente para alertá-lo sobre o risco: o ex-governador Sérgio Cabral fez exatamente o mesmo em 2014 e depois, sem foro privilegiado, foi preso por Marcelo Bretas, um juiz de primeira instância. Acabou ficando seis anos atrás das grades.
Abaixo, os principais trechos da conversa com Pampolha.
Como o senhor responde à entrevista do governador Cláudio Castro para o Valor dizendo que o senhor não sentará na cadeira dele?
Me surpreendi muito com essas declarações. As palavras do Claudio foram duras, mas o coração dele é mole e muito saudável, graças a Deus (risos). Agora… eu não quero, de maneira nenhuma, que o Cláudio tenha um infarto, muito menos morra. Entendo que a posição do governador não é nada fácil. Governar e liderar um processo político dessa dimensão o coloca sob intensa pressão, principalmente por parte de alguns aliados. No meu CPF, eu te confirmo aqui: vou disputar as eleições ao governo do estado do Rio.
Aliados do governador garantem que o senhor vai acabar aceitando uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE) e sairá do caminho de Bacellar, exatamente como Castro quer…
Não, não é verdade. Ser lembrado para uma função tão importante é uma honra, mas isso jamais passou pela minha cabeça. Estou focado e preparado para a missão de enfrentar os problemas do estado.
Não é ruim para o Rio o governador e o vice não terem uma boa relação e estarem rompidos?
Os problemas que tivemos foram pontuais e, da minha parte, estão superados. Desentendimentos acontecem, entre irmãos, marido e mulher… por que seria diferente numa relação de natureza política? É do jogo. Somos amigos e tenho apreço pelo Cláudio. Mas a verdade é que tentaram me colocar como um vice decorativo e eu não me encaixo nesse papel. Se pensaram que eu iria ficar apanhando quieto, aplaudindo e sorrindo para tudo, estavam muito enganados.
Então a sua candidatura será de oposição ao próprio governo que o senhor integra? Como convencer o eleitor?
Minha candidatura não será de oposição. Será de posição, de atitude e posicionamento firme. Todos sabem que não participo das decisões do governo, e, portanto, não responderei por nenhuma delas, a não ser na área ambiental no tempo em que estive à frente da pasta. Eu não tenho um tutor. Tenho independência para tomar minhas próprias decisões e uma história na política fluminense. Fui deputado por três mandatos, secretário de estado duas vezes, conheço profundamente o estado do Rio e estou pronto para enfrentar o maior desafio da minha vida. Tem muita coisa nesse governo com o que eu não concordo.
Na segurança pública, o governo paga um dos maiores salários do país, investiu em tecnologia, armamento e viaturas. Mesmo assim, temos os piores índices do Brasil, o que mostra que a falha está na gestão e na estratégia. O Segurança Presente, por exemplo, tem que estar sob o comando da Polícia Militar, que é a responsável pela segurança ostensiva, e não na Secretaria de Governo. Outra coisa que não é aceitável é essa troca relâmpago de secretários em áreas sensíveis e que demandam muito planejamento e técnica. Teve secretário durando 15 dias… Outra questão é a agenda ambiental. Em 2022, criei o “Ambiente Jovem”, que é de longe o maior programa de educação ambiental do Brasil. Formamos mais de 12 mil jovens de 16 a 24 anos em todo o estado do Rio, muitos moradores de áreas conflagradas. Foi desolador ver um trabalho desse vulto ser encerrado abruptamente logo após a minha exoneração.
Quem manda no MDB do Rio hoje é o secretário de Transportes, Washington Reis, aliado do governador. O senhor conseguirá convencer o seu partido a apoiá-lo no projeto de concorrer ao Palácio Guanabara?
O meu partido já está convencido, e o candidato sou eu. O Washington é um quadro político importantíssimo e um grande amigo pessoal. Aliás, a construção para eu ser escolhido vice na chapa com o Cláudio em 2022 passou essencialmente por ele. Tem a minha gratidão sempre. Mas ele é habilidoso e jamais colocaria um projeto pessoal ou qualquer vaidade acima dos interesses do partido e da população do Rio. Uma coisa é preciso ficar clara: se confirmada a candidatura do Cláudio ao Senado, certamente contará com meu voto e apoio. Ele tem se dedicado à questão dos ajustes na legislação penal e na dívida do estado.
A sua família tem negócios na área de postos de gasolina no Rio. Teme uma devassa na sua vida privada em meio a essa disputa?
Não, de forma alguma. Ameaças de qualquer tipo nunca me intimidaram e não seria agora. Quanto à vida empresarial da minha família, não começou ontem. São muitos anos de trabalho duro e muito sério, tem tradição e sempre foi totalmente dissociada da coisa pública.
O prefeito Eduardo Paes costuma conversar com o senhor. Há chances de o senhor assumir o governo e, na verdade, colocar a máquina para apoiar o prefeito, que deve ser candidato?
Estranho seria eu não conversar com o prefeito da minha cidade. Somos amigos, mas não aliados. Eu serei o candidato. Aliás, o Eduardo Paes é candidato? Ele não vai querer manchar sua biografia com essa marca de traição aos cariocas e a toda a sociedade. Seria vergonhoso. Mas acredito, sim, que ele possa ser candidato a vice-presidente na chapa do PT, com o presidente Lula.
O MDB hoje tem uma ala ligada ao presidente e, outra, a Bolsonaro. O senhor está de que lado?
Sou centro-direita e em 2026 quero ter a oportunidade de votar e apoiar o Bolsonaro de novo. Eu entendo as coisas de forma simples: família, religião e princípios são pilares fortes na minha vida.
O senhor é a favor da anistia para os acusados do 8 de janeiro?
Entendo que deve haver uma reconsideração sobre as penas. O sujeito que vandalizou um bem público deve pagar por isso na leitura da lei. O que me preocupa muito é a dosimetria. Você não pode condenar a 14 anos uma mulher que pichou uma estátua com batom e soltar traficantes, milicianos e assassinos em menos de 24 horas numa audiência de custódia.
Na semana que vem voltamos com a série sobre as eleições de 2026. Até lá, você pode ler as sete conversas nos links abaixo.
- ‘Eleição de 2026 será de mudança’: A entrevista com Renato Pereira
- ‘Economia e direita esfacelada tornam Lula favorito para 2026’: A entrevista com Marcello Faulhaber
- ‘Fenômeno global de dificuldade de reeleição de governantes impacta Brasil e Lula para 2026’: A entrevista com Maurício Moura
- ‘Direita não se resume a Bolsonaro, mas vaidade vai levá-lo a manter a candidatura a presidente até o fim’: A entrevista com Marcos Carvalho
- ‘O bolsonarismo vai precisar de Tarcísio candidato a presidente em 2026’: A entrevista com Paulo Vasconcelos
- ‘A crise de 2025 é mais difícil que a de 2005 para Lula’: A entrevista com João Santana
- ‘Tarcísio vai esperar Bolsonaro até 31 de março de 2026, e Michelle é ótimo nome para vice’: A entrevista com Pablo Nobel
Bolsonaro vira réu: previsível. A novidade no debate público é a pena para a pichadora do batom começar a ser questionada na imprensa e no Supremo
Encerrado o previsível enredo de aceitação da denúncia contra Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto e cia, o que fica de surpreendente dos últimos dois dias de sessão é o início de uma contestação à pena de 14 anos de prisão dada para Débora dos Santos, a cabeleira conhecida por pichar a frase “Perdeu, mané” com batom no monumento “A Justiça”, em frente à sede da Corte.
Na manhã de hoje, o ministro Luiz Fux foi taxativo sobre como vai lidar com esse tema: “Em determinadas ocasiões, me deparo com uma pena exacerbada e foi por essa situação que pedi vista desse caso”, disse. Na semana passada, o ex-ministro Marco Aurélio Mello, em entrevista a VEJA, disse: “A pena imposta é de latrocida, de homicida”.
Hoje, no GLOBO, Elio Gaspari assina o artigo “Débora virou um símbolo espinhoso”. Escreve o colunista: “Com a autoridade que a defesa da democracia lhes concede, os ministros do Supremo podem muito, mas devem cuidar do respeito ao bom senso. Se a senhora do batom merece 14 anos, resta saber quantos merecerá o redator do plano Punhal Verde e Amarelo, impresso no Palácio do Planalto?”
No domingo, Merval Pereira entregou o texto “Dosimetria injusta”. Nele, pontuou o seguinte: “Os condenados estão todos sendo acusados de ‘associação criminosa armada’, quando não há indícios de que estivessem armados, muito menos a cabeleira, que usou um batom para fazer a pichação”.
Estamos diante de uma das produções mais importantes feitas para a TV nos últimos tempos. Sem exagero. A série da Netflix repete o fenômeno de repercussão de “Bebê Rena”, do ano passado, mas com uma qualidade ainda maior. Tem spoiler abaixo, cuidado se você não assistiu.
Para quem tem filho, um soco no estômago. Foram muitos os relatos de amigos nos últimos dias vendo os quatro capítulos abraçados aos seus adolescentes em casa. Tenho um menino de 5 anos e obviamente pensei nele o tempo todo ao assistir. Como será quando ele chegar nessa fase? Não tem jeito, nós pais precisamos nos preparar cada vez mais e mais para os desafios do mundo de hoje. É ler muito, procurar estar informado e, principalmente, colocar em prática no dia a dia uma paternidade afetuosa e inteligente.
“Adolescência” conta a história de Jamie, um jovem de 13 anos que mata a facadas uma colega da sua escola por se considerar vítima de bullying. Poderia escrever uma newsletter inteira sobre os destaques da série: 1) a atuação magistral do ator mirim que nunca tinha feito nenhum trabalho anteriormente. 2) o plano sequência dos episódios de tirar o fôlego. 3) o roteiro não usar do truque fácil de apresentar uma família com um pai alcoólatra e uma mãe em depressão. 4) o episódio três, um duelo verbal entre a psicóloga e Jamie, é monumental. Ali começam a vir a tona todas as necessidades de validação do jovem. 5) o episódio quatro e os diferentes momentos dentro da van da família: uma ida feliz a uma loja, ouvindo “Take on Me”, do A-Ha, planejando uma tarde em um restaurante de frutos do mar e no cinema comendo pipoca; uma volta com o peso cruel de saber que o filho vai confessar o crime.
Está nas páginas do Segundo Caderno de hoje uma entrevista brilhante de Talita Duvanel com Stephen Graham, criador e um dos protagonistas da série. Ele diz qual idade acha a ideal para uma criança assistir “Adolescência”: “Ela não tem imagens de violência. Pessoalmente, eu direcionaria para a idade do Jamie (o personagem principal, de 13 anos). Mas acho que 12 é uma boa também, porque é quando se entra na adolescência”.