Na última quinta-feira (13), o Sindicato de Atores dos Estados Unidos (conhecido pela sigla SAG-AFTRA) entrou em greve. O motivo da greve é a preocupação com o uso de inteligência artificial pelos estúdios, o que levaria a precarização dos trabalhos e exploração da imagem dos atores. Em maio, os roteiristas americanos entraram em greve com a mesma preocupação.
De acordo com a SAG-AFTRA, popularmente chamada de Sindicato dos Atores de Hollywood, os estúdios propuseram nas negociações pré-greve que os atores pudessem ter suas imagens escaneadas e vozes gravadas — ganhando apenas o pagamento de um dia de trabalho. Com esses dados, as companhias poderiam usar “eternamente” a imagem de atores, principalmente de figurantes — e sim, outros atores em participações menores em filmes e séries também seriam prejudicados.
Agora, o apoio dos atores aos colegas roteiristas evolui, virando uma “greve geral” em Hollywood contra o inimigo em comum, as IAs—que já gerava debates sobre o uso das imagens de artistas de diferentes segmentos, principalmente dos que já morreram. Com a greve das duas classes, produções e divulgações serão interrompidas em Hollywood.
“Deep fake” de atores seria uma nova economia para streaming
Esse “modelo de negócio” permitiria que estúdios fizessem uma “compra única” dos serviços dos artistas, o que geraria economia nas contas. Com isso, as diversas plataformas de streaming poderiam manter suas produções por tempo indefinido no seu catálogo, já que não teriam os gastos “recorrentes” — por exemplo, pagar direito de imagem.
E como praticamente todo estúdio tem seu streaming, a precarização dos trabalhos (e quiçá da atuação como um todo, mas isso é assunto para outro momento e talvez outro site) seria geral: todo ator estaria sujeito a trabalhar desse modo. Recebendo o pagamento de “um dia de trabalho”, no qual sua imagem (incluindo a voz) seriam registradas para o todo e sempre.
Em alguns casos, isso é positivo. Val Kilmer usou inteligência artificial para recriar sua voz, perdida após uma traqueostomia que removeu um tumor da garganta. Mas aqui temos um caso de procedimento autorizado, para uma obra específica (Top Gun: Maverick) e com o ator ainda vivo.
No quinto filme de Indiana Jones, lançado neste ano, a tecnologia de deep fake permite que Harrison Ford apareça em sua versão jovem (e digitalizada). Essa ideia traz outro risco: estúdios produzindo sequências desnecessárias para filmes que terminaram bem — que também envolve na questão da “propriedade eterna” da imagem de atores.
Óbvio, alguns atores possuem suas imagens avaliadas na casa de milhões e um estúdio teria que desbancar uma quantia enorme para um contrato “pós-morte” de longo prazo, ainda mais para “sempre”. Esse cenário não soa tão impossível, mas, como dito anteriormente, esse “uso eterno” é um risco para atores menos conhecidos.
Por mais que a preocupação uso da IA nas produções seja “recente”, acompanhando o avanço das tecnologias de edição e deep fake, alguns artistas já proibiram o uso de suas imagens após morrerem.
Entre esses artistas estão: Whoopi Goldberg, a cantora e atriz Maddona e Robin Williams. Este último já falecido, mas Williams deixou um testamento restringindo o uso da sua imagem por 25 anos após sua morte, ocorrida em 2014.
A atriz Whoopi Goldberg informou nesta semana que o seu testamento, escrito há 15 anos, proíbe que sua imagem seja usada em hologramas após seu falecimento. A mesma proibição está no testamento de Madonna.
Recentemente, o deep fake usado pela Volskwagen para recriar a cantora Elis Regina também levanto o debate sobre uso de imagem de artistas já falecidos para campanhas publicitárias. A montadora teve autorização da família, mas como ficaria o caso de personalidades sem parentes vivos?
Com informações: The Verge e O Globo