
O Série 2 Gran Coupé sempre dividiu opiniões até entre os próprios fãs da BMW. Afinal, é um sedã compacto com motor transversal e tração originalmente dianteira — usa a plataforma UKL2 (a mesma do Mini Countryman), em contraste com o tradicional arranjo longitudinal e tração traseira da marca. Reestilizado no fim do ano passado, já como “linha 2026”, o esportivo M235 xDrive, de tração integral, ficou mais agressivo no design, mais tecnológico no interior e, o principal, mais convincente ao volante.
Aliás, reparou que o sufixo “i” foi retirado do nome? A letrinha era usada desde o BMW 2000tii, de 1969, para indicar que a versão tinha injeção eletrônica. Mesmo depois da aposentadoria dos carburadores, a tradição continuou. Aos poucos, porém, o “i” está passando a ser usado apenas como prefixo nos carros elétricos da marca. Que ironia.
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Fonte: Jason Vogel
Visualmente, as proporções do Série 2 Gran Coupé continuam sendo um ponto delicado mesmo depois da recente plástica — obra da equipe do designer mexicano José Casas. A cirurgia foi tão extensa que o modelo teve seu nome-código alterado de F44 para F74. Há mesmo quem o trate, com certo exagero, como “nova geração”.
No modelo anterior, lançado em 2019, a dianteira era mais agressiva e a traseira mais suave. Nesta versão nova, a frente está mais elegante, com linhas limpas. Foi levemente recuada para diminuir o balanço dianteiro. O duplo rim está mais geminado que nunca: tornou-se praticamente um trapézio, com a parte central fechada pela grande “chapa” do radar e sensores. Em preto brilhante, a grade é realçada pela moldura de LED.
Foto de: Jason Vogel
O para-choque dianteiro ganhou tomadas de ar maiores e o contorno dos faróis foi suavizado. De maneira geral, deram uma boa limpeza no desenho, harmonizando os elementos e reduzindo excessos.
As linhas laterais trazem o vinco Hofmeister com o número “2” em baixo-relevo na moldura dos vidrinhos das colunas C. Os retrovisores externos agora têm um bico na parte mais próxima aos vidros das portas, para evitar ruídos aerodinâmicos.
A traseira foi arrumada com novas lanternas, para-choque e até a posição do logo da BMW. Há quatro saídas de escape — o que é bacana — mas, mesmo com um difusor no para-choque, o abafador fica exposto à moda Corolla Cross.
As dimensões praticamente não mudaram: são 4,55 de comprimento, ou 2 cm a mais que antes por mudanças no para-choque traseiro. O porta-malas não é dos maiores, com 360 litros de capacidade e abertura estreita. Mesmo com toda a “limpeza”, o Série 2 Gran Coupé continua com uma silhueta mais amorfa e menos elegante que a do Série 3.
Fato é que “nosso” M235 xDrive pintado no vistoso vermelho Fire chamou um bocado de atenção dos curiosos, especialmente durante a sessão de fotos no Aterro do Flamengo.
Foto de: Jason Vogel
Por dentro, a abordagem foi reduzir a poluição visual e deixar os controles mais discretos — embora o excesso de funções digitais sacrifique comandos simples, como o do ar-condicionado. O seletor do câmbio foi substituído por uma barrinha achatada no console. Uma mudança menos óbvia é que as saídas de ar estão integradas de forma mais fluida ao painel.
A tela curva que une o painel digital de 10,3” e a central multimídia de 10,7” chama a atenção pelo tamanho do conjunto. Como no X2, as escalas do velocímetro e do conta-giros são confusas e pouco instintivas. São angulosas, inspiradas no desenho da grade. Testamos todas as possibilidades de visualização e cada uma tem leitura pior que a outra (sob sol forte, ainda há reflexos para complicar). Sendo um quadro 100% digital, custava pôr uma opção de escala analógica simples, com rápida interpretação? Que tal simular os quatro instrumentos dos antigos M3 E46?
Foto de: Jason Vogel
O volante de aro grosso e o banco esportivo, com amplos ajustes, proporcionam posição de guiar bem vertical e confortável — aquela ergonomia exemplar de carro alemão. O volante, aliás, traz costuras nas cores azul e vermelha da divisão M, que também aparecem nos cintos de segurança, reforçando a esportividade visual. Também gostamos do acelerador pivotado no assoalho e das grandes aletas para trocas manuais de marcha.
Os bancos esportivos forrados com Alcantara são bem moldados e oferecem apoio lateral exemplar, embora sejam um tanto duros em uso prolongado. O acabamento é caprichado, como se espera em um BMW.
Foto de: Jason Vogel
Atrás, o espaço para pernas e joelhos é até melhor do que esperávamos — o problema é o teto muito baixo. Quem tem 1,70 m ou mais vai encostar a cabeça no forro.
O pacote de equipamentos de série no Brasil é bem completo. Inclui head-up display, câmera 360°, câmeras nos retrovisores externos para não ralar as rodas no meio-fio, câmera interna, chave digital via smartphone, som Harman Kardon de 12 alto-falantes e ótima qualidade, além de um bom pacote de segurança (mudança automática do facho dos faróis, alertas de colisão frontal, ponto cego, saída de faixa e tráfego cruzado, além de assistente de estacionamento e memória de marcha à ré). O teto panorâmico (ou semi-panorâmico?), que abre parcialmente, amplia a sensação de espaço, mas reduz a altura interna.
Foto de: Jason Vogel
O coração do M235 xDrive é o conhecido 2.0 turbo B48 de quatro cilindros — basicamente o mesmo do Mini Countryman JCW ALL4. No BMW, agora rende 317 cv (ganho de 11 cv) e 40,8 kgfm de torque. A entrega é imediata, praticamente sem turbolag — a faixa útil vai de 2.000 a 4.500 rpm. O ronco do escapamento, embora presente, é discreto demais para quem espera mais drama sonoro. Isso acontece mesmo em modo Sport.
Vale dizer que a versão de entrada do Série 2 Gran Coupé no Brasil — antes chamada 218i Sport GP — agora é a 220 M Sport. Seu motor passa a ser o mesmo 2.0 turbo B48 do M235 xDrive, porém em versão bem mais mansa, de 204 cv. E é um BMW de tração dianteira, para horror dos apaixonados pela marca.
Foto de: Jason Vogel
O câmbio automatizado de dupla embreagem e sete marchas (M-DCT) oferece trocas mais diretas e maior eficiência em relação ao antigo automático Aisin de oito marchas. Trocando rapidamente, reforça a sensação dinâmica (especialmente em modo manual) do M235. A contrapartida é um pequeno “soluço” em velocidades muito baixas ou ao voltar a se mover após quase parar. Fato é que o conjunto rende aceleração de 0 a 100 km/h em 4,9 s — desempenho digno de esportivo puro. A máxima é limitada eletronicamente a 250 km/h.
O mais empolgante nesse carro é o recurso M Sport Boost (ativado ao segurar a borboleta esquerda), que configura motor, câmbio e chassi no modo mais agressivo por 10 segundos — útil em ultrapassagens ou estradas sinuosas. No modo Sport, o acelerador reage de forma superbrusca e, na cidade, é melhor optar pelos modos Personal ou Efficient. A troca de configuração é feita na tela multimídia ou no console.
Foto de: Jason Vogel
O sistema de tração integral xDrive assegura arrancadas sem patinar e muita confiança em curvas, com um diferencial autoblocante mecânico Torsen na dianteira e ótima vetorização de torque entre os eixos. Além disso, o sistema pode atuar freando seletivamente as rodas.
Fato é que, em condições normais, a gente se sente guiando um carro com tração dianteira. Quando as rodas da frente perdem tração, o xDrive pode enviar até 50% da força para o eixo traseiro. Em cenários extremos de baixa aderência — como quando um dos eixos está totalmente sobre uma superfície escorregadia — o sistema pode direcionar até 100% do torque para o eixo dianteiro ou traseiro.
Foto de: Jason Vogel
Em curvas rápidas, o carro mostra neutralidade e altíssima aderência com seus pneus Goodyear Eagle F1 225/40 R19. A suspensão Adaptive M. item de série nos M235 vendidos aqui, mantém firmeza esportiva sem punir tanto em piso irregular. Não chega a ser confortável como um sedã premium maior, mas prima pelo equilíbrio.
A direção é direta, precisa e com bom peso (no trânsito urbano, ela muda o comportamento e até parece filtrada demais). O M235 é sólido e previsível: tem tocada firme e esportiva, é gostoso de guiar e não é desconfortável para o uso diário.
Foto de: Jason Vogel
Ainda que o consumo não seja o foco aqui, esse carro de 317 cv é surpreendentemente econômico. Com pé leve, faz perto de 12 km/l na estrada e algo entre 8,5 e 9 km/l na cidade.
Foto de: Jason Vogel
Enquanto o Série 2 Gran Coupé básico (220 M Sport) custa R$ 320.950, o esportivo M235 xDrive sai por R$ 479.950. A grande diferença de preço (R$ 159 mil!) se explica pelo abismo de comportamento dinâmico entre um e outro.
O M235 xDrive concorre diretamente com o novo Audi S3 Sedan (que ainda não chegou ao Brasil) e com o Mercedes-AMG CLA 35, de 306 cv (R$ 504.900). Até aqui, tudo bem: o modelo da BMW oferece desempenho semelhante por R$ 24.950 a menos.
E, para ter um M “pra valer”, seria preciso ir para outro patamar de preço: O M2 — o cupê de duas portas com seu seis-em-linha longitudinal de 480 cv, tração traseira e para-lamas de curvas voluptuosas — custa R$ 673.950. Ou seja: R$ 194 mil a mais.
O problema do M235 xDrive aparece quando a comparação envolve seus irmãos maiores da Série 3. O híbrido plug-in BMW 330e M Sport oferece ótimo desempenho com 292 cv de potência combinada, além de espaço interno muito maior, e custa R$ 455.950 (ou R$ 24 mil a menos). Em termos de equipamentos, ambos se equivalem — e o 330e sai apenas com tração traseira.
Fica assim: o M235 se destaca pela esportividade, tração integral e temperamento mais extremo; já o Série 3 é mais sóbrio, espaçoso e econômico, oferece modo elétrico e, em alguns estados, ainda conta com desconto (ou até isenção) de IPVA.