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Avanços tecnológicos na oftalmologia refletem-se em outros segmentos

Magno Ferreira viaja em novembro para simpósio em Shangai, na China | Foto: Adreana Oliveira

Há mais de três décadas Magno Ferreira iniciou uma trajetória de sucesso na oftalmologia. Nascido e criado em Uberlândia, é um cidadão do mundo que sempre viaja em busca de novos conhecimentos. Iniciou o curso de Oftalmologia em 1987 na antiga Escola Paulista de Medicina – atual Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). De lá para cá, viu em seu campo a tecnologia avançar cada vez mais rápido, e alguns desses avanços são utilizados em outras especialidades.

“Peguei vários avanços tecnológicos. Minha turma na residência foi a que fez a transição da intracapsular, que tirava o cristalino como um todo (não colocava lente intraocular), para a cirurgia extracapsular, que colocava a lente intraocular dentro do cristalino. A partir daí, não parou mais.”

Ferreira viu a mudança da oftalmologia de uma maneira bem acentuada. O oftalmologista, relata o médico, era basicamente um clínico que receitava óculos e tratava uma ou outra patologia. “Tornamos-nos médicos extremamente especializados na área, especialistas em retina, córneas, catarata ou oftalmopediatria, por exemplo. Talvez seja a especialidade que mais cresceu nos últimos 30 anos.”

As perspectivas são ainda mais animadoras. Segundo Ferreira, estão a caminho coisas muito interessantes, como a terapia gênica para doenças degenerativas, que está em fase bem avançada nas pesquisas. “A oftalmologia deve ser novamente pioneira em muitas coisas”, disse Ferreira, que, em Uberlândia, atende no HOlhos e é presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV).

Ele explica que antigamente as cirurgias eram feitas com o olho, ou os óculos. Passou-se para as lupas, que muitas especialidades ainda usam bastante, como a cirurgia cardíaca. Depois vieram os microscópios com aumentos variáveis de 8 até 40 vezes, e a maioria das especialidades trabalha com microscópio hoje em dia. “A oftalmologia também foi pioneira. A tecnologia 3D para cirurgias oftalmológicas, Ngenuity®, já disponível em Uberlândia, foi criada pela Truevision, na Califórnia.”

Ferreira explica que, para operar em 3D com tecnologia digital, são necessárias três coisas: uma câmera que filma em 3D (que enxerga como nosso olho), filmando em dois ângulos diferentes no mesmo lugar; óculos para fundir as imagem; e uma tela de 55 polegadas de OLED (monitor de alta definição).

“Aquele campo que eu tinha ao olhar no microscópio, por exemplo, que era de milímetros, passou para um campo em alta definição de 55 polegadas, com a profundidade de foco que não tínhamos, o aproveitamento da luz muito bom e a definição de dentro do olho impossível ao microscópio. A imagem que temos é perfeita.”

Mas o doutor explica que o grau de complexidade das cirurgias em si não diminuiu, como a de retina. Só se opera com qualidade e detalhes que não havia antes, e isso leva a resultados melhores e reduz o tempo de realização das cirurgias.

“O sistema 3D, na minha opinião, veio para ficar. Dentro da cirurgia de catarata e refrativa, ainda existe um certo preconceito por conta do delay [atraso] de segundos para a imagem chegar ao monitor, mas isso não atrapalha o médico. É bom para glaucoma, plástica ocular e estrabismo.”

Ele explica ainda que a curva de transição entre uma e outra tecnologia não existe. A prática não muda, a dificuldade é praticamente nenhuma. “São detalhes fáceis de lidar, é como se você saísse de um carro popular para dirigir um automático.”

Para o especialista, nem sempre se tem como cobrar pela tecnologia como a 3D, por exemplo. “É um investimento alto e o retorno financeiro praticamente não existe, o ganho é mais para o paciente e para o médico. Você não pode exigir que um paciente pague mais, porque usará um novo sistema, e o convênio não vai te pagar a mais por isso.” O sistema desenvolvido no Vale do Silício ainda não tem produção no Brasil, onde as pesquisas têm sofrido cortes cada vez mais constantes. Para Ferreira, o microscópio está com os dias contados, o 3D vai absorver tudo. “A Ngenuity® 2 já vem sem o microscópio.”
 
FORMAÇÃO CONSTANTE
Magno Ferreira esteve recentemente no Congresso da Academia Americana de Tecnologia e viaja para o exterior pelo menos três vezes ao ano. Logo irá à China pela primeira vez, onde participará do Asian Pacific Vitreo Retina Symposium (AVPRS), que acontece de 22 a 24 de novembro em Shangai.

Em sua percepção, o profissional brasileiro é muito valorizado lá fora. “Posso falar pela Oftalmologia, somos muito respeitados, mas percebo isso em todas as áreas. As ações da Brazilian Retina & Vitreous Society, da qual Ferreira é presidente, é a terceira maior do mundo. “Nosso International Journal of Retina & Vitreous já foi até copiado por outras sociedades.”

Ferreira, que tem dois mestrados e um doutorado, adora estudar até hoje. A tecnologia também está na formação. O especialista desenvolveu um curso EAD com grandes nomes da oftalmologia brasileira com aulas de até quatro horas. “É o melhor material de retinas hoje no mundo, em termos de videoaula e estou também fazendo um e-book”, disse Ferreira, que também é professor na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) há 26 anos.
 

 



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