Em julho de 2010, foi elaborado o Relatório para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. No documento, intitulado “Educação: um tesouro a descobrir”, foi definida a base do ensino, que seria pautada em quatro elementos: conhecer, fazer, conviver e ser.
Enquanto “conhecer” se refere à valorização do conhecimento e ao desenvolvimento da capacidade de descobrir e aprender por conta própria, “fazer” é o desenvolvimento da autonomia do indivíduo. “Conviver”, por sua vez, se relaciona ao aprimoramento das capacidades socioemocionais, e o “ser” está ligado ao desenvolvimento da personalidade e identidade. São passos importantes para o pleno aprendizado e desenvolvimento do aluno.
Ao pautar-se nestas esferas da vida individual, a educação passa também a configurar um agente transformador fundamental da sociedade e a possibilitar sua renovação ao longo dos anos e se transforma em ferramenta libertadora para aqueles que aprendem. Apesar disso, nem todos os indivíduos aprendem da mesma forma, sendo, muitas vezes, necessária a adaptação por parte da sociedade para que todos possam ter acesso ao conhecimento.
Foi nesse sentido que tomou força o movimento da educação inclusiva, iniciado nos anos 2000. Nesta reportagem, conversamos com a professora e pedagoga Janine Gonçalves Peixoto e com a psicóloga escolar Gabriela Martins, ambas da Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia (Eseba/UFU), para entender a importância dessa forma de ensino.
O que é educação inclusiva?
A educação inclusiva é, por definição, uma forma de educação que busca a não-exclusão do estudante em qualquer área, adaptando o ensino às suas necessidades, quaisquer que sejam, para proporcionar uma experiência de aprendizado mais humanizada e de acordo com as condições de cada aluno.
Segundo Peixoto, “quando eu falo de inclusão, eu não estou falando de um único público, de uma única minoria. Estou falando de qualquer pessoa que tenha qualquer circunstância que precisa ser incluída”. Nesse sentido, o movimento da educação inclusiva reúne esforços não só para abarcar as diversidades socioeconômicas de cada estudante, mas também para valorizá-las.
Como acontece a educação inclusiva?
Conforme explica Martins, a preparação para educar de maneira inclusiva prevê saber identificar e nomear ações e falas preconceituosas, por mais inocentes que pareçam, e, a partir disso, tomar medidas que ensinam o quanto perpetuar esses comportamentos pode ser socialmente prejudicial. Além disso, essa forma de educação também perpassa pela inserção tanto de matérias específicas na grade curricular quanto de atividades nas disciplinas regulares, principalmente da área de humanas, que tratam da temática.
Somado a isso, outra maneira de abranger o maior número de diversidades possível e integrá-las de forma igualitária na escola e, assim, na sociedade, é a criação de modalidades de ensino. Essas estão previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96) e englobam cada especificidade que há na identidade e no universo do aluno, como gênero, sexualidade, etnia, raça, classe social, faixa etária e possíveis neurodivergências.
Modalidades de educação e ensino
A LDB prevê, especificamente, duas modalidades que trabalham a inclusão de forma direta: a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e a Educação Especial. A EJA é destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Já a educação especial é a modalidade para alunos com deficiência, Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e altas habilidades (ou superdotação).
De acordo com a professora Peixoto, que atua na Eseba como educadora especial, nessa modalidade de ensino, o professor trabalha com o atendimento educacional especializado. Este configura o que é entendido também como aula, mas exige um acompanhamento mais próximo junto ao aluno para fazer a inclusão de maneira mais eficiente.
Nesse cenário, o profissional faz uso de diversas ferramentas e dispositivos de tecnologia assistiva, bem como de softwares que podem ou não ser especificamente destinados a isso, mas que auxiliam nas habilidades motora e cognitiva do estudante. Estes, inclusive, segundo a professora, podem ser usados pelos alunos também fora da escola, em casa, com a família e no dia a dia. Assim, é possível não só que a aprendizagem continue para além do ambiente escolar, mas também que a integração social dessas pessoas seja permanente.
Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.