Crítica | ‘Caramelo’ emociona em uma viagem afetiva pela brasilidade

“Há encontros que têm o poder de mudar a vida da gente”

Há cerca de um ano, quando a Netflix anunciou que lançaria um filme sobre um vira-latas caramelo, houve quem torcesse o nariz, mas também despertou um interesse. Afinal, anualmente, o cinema americano lança uma porção de produções estreladas por cachorros – geralmente todas iguais –, então por que o Brasil, o país que mais tem pais de pet por metro quadrado no mundo, não poderia lançar sua própria versão dessas histórias?

E o resultado dessa empreitada é Caramelo, um filme que trabalha de forma calorosa sua brasilidade para contar uma história emocionante sobre uma amizade capaz de mudar vidas. A trama começa de uma forma tão orgânica que fica impossível não se render aos personagens nos primeiros 15 minutos de filme. Um cachorrinho vira-latas é abandonado ainda filhote. Nas ruas, ele aprende a se virar e a sobreviver com muita malandragem, até que seu caminho cruza com o de Pedro, um aspirante a chef de cozinha que sonha com a oportunidade de ascender no restaurante em que trabalha.

Divulgação/ Netflix © 2025

De formas que somente a vida pode explicar, esse encontro inesperado se desenvolve em uma amizade para toda a vida, com o simpático doguinho atuando nos pequenos detalhes para ajudar o amigo, que mesmo sem falar “cachorrês”, compreende as respostas e ações do bichinho com uma sensibilidade muito interessante de se ver.

Então, como num golpe de sorte, as coisas começam a dar certo no trabalho de Pedro, que passa a viver seu sonho. Porém, na mesma velocidade que as coisas boas surgem, uma notícia devastadora toma conta da vida do rapaz, que descobre ter um câncer no cérebro e passa a sofrer com os efeitos de um tratamento agressivo, enquanto tenta manter segredo de seus amigos e família. Só que é aquilo, não dá para esconder do mascote, que passa a movimentar a vida do jovem, trazendo alegria nos detalhes e despertando sentimentos que ele não acreditava que seria mais capaz de sentir.

Divulgação /Netflix © 2025

O grande mérito desse filme é justamente saber como trabalhar a brasilidade de forma orgânica. Quando anunciaram o projeto, havia um temor de que fosse apenas mais um filme fazendo piadas batidas sobre “vira-lata caramelo”, “tomar um litrão”, “pagar boletos” e afins. Era um medo de estereótipos extremamente batidos do que é ser jovem no Brasil. Mas a forma como o diretor Diego Freitas trabalha o cotidiano tipicamente brasileiro é tão natural que fica impossível não se encantar. Os cenários são facilmente identificáveis, as ambientações de apartamentos, casas e lojas são muito críveis, a iluminação é aconchegante. E como a trama gira em torno da gastronomia, existe um trabalho espetacular de construir e retratar afeto de uma forma que liga um povo a suas raízes. É um filme perfeito para quem, por exemplo, não está mais morando no país. Ele é capaz de despertar um sentimento de saudade sem fazer esforço.

As relações entre os personagens são muito críveis, por mais duras que sejam as situações em que elas nascem. E mesmo nos momentos de maior previsibilidade, é tudo tão bem construído que te toca no fundo da alma. Em especial, vale destacar as interações de Rafa Vitti (Pedro) com o cachorrinho Amendoim, que interpreta o Caramelo, mas principalmente as interações entre o ator (humano) e a mãe, vivida por Kelzy Ecard. É um trabalho tão afetivo que convence ao primeiro contato que eles são mãe e filho. É uma relação belíssima construída em poucas, mas significativas cenas.

Divulgação /Netflix © 2025

Em um cenário tão batido de filmes de cachorro, Caramelo consegue construir uma história tipicamente brasileira, que aborda os altos e baixos da vida cotidiana de milhões de brasileiros por aí. Nada mais “a gente” que ter um sonho interrompido por notícias ruins e ainda assim encontrar forças para seguir na luta e tentar superá-las. Nada mais “a gente” que ficar encantado por um cachorrinho endemoniado que ninguém entende como você aguenta, mas ainda assim nutrir um amor inexplicável por aquela bolinha de pelos. Nada mais “a gente” que saber que existem motivos para sorrir mesmo quando a vida não ajuda. É uma jornada emocionante, divertida e acima de tudo, é nossa. Um filmaço brasileiro que se orgulha das próprias raízes e exalta seu povo com muita simpatia, resiliência e beleza.

Divulgação /Netflix © 2025

Caramelo está disponível na Netflix.

Autor

  • Redação Uberlândia no Foco

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