Dezenas de milhares de palestinos deslocados na Faixa de Gaza ainda não puderam retornar ao norte do território palestino neste domingo por causa do bloqueio do Exército israelense, em meio a acusações de que o Hamas e Israel estavam violando uma trégua.
— Dezenas de milhares de pessoas deslocadas estão esperando perto do corredor de Netzarim para retornar ao norte da Faixa de Gaza — disse à AFP o porta-voz da agência de defesa civil, Mahmoud Basal, referindo-se a uma faixa de terra de sete quilômetros, militarizada por Israel, que divide o enclave em duas partes, norte e sul.
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Israel está atualmente bloqueando a passagem, argumentando que o Hamas não cumpriu algumas das condições do cessar-fogo que entrou em vigor no último domingo.
Os repórteres da AFP na área viram multidões de habitantes de Gaza em uma estrada costeira perto da barreira, esperando para passar.
De acordo com Ismail al-Thawabtah, chefe do escritório de mídia do governo do Hamas em Gaza, há dezenas de milhares de pessoas esperando na passagem, “entre 615 mil e 650 mil”. A maioria delas chegou a pé, algumas de carro. Os caminhões também estão esperando sua vez, em meio a multidões nas margens do Mar Mediterrâneo. Alguns até montaram uma barraca na beira da estrada. Todos estão determinados a passar, mesmo que o que encontrem no norte sejam apenas ruínas e destruição.
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Como parte do acordo de cessar-fogo que começou há uma semana, Israel deveria permitir que os deslocados de Gaza atravessassem o corredor e voltassem para suas casas no norte. Mas o governo de Benjamin Netanyahu acusa o Hamas de violar o acordo ao não libertar, no sábado, Arbel Yehud, uma civil sequestrada durante o ataque do grupo palestino ao território israelense em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.
“Israel não permitirá que os habitantes de Gaza entrem no norte da Faixa de Gaza até que a libertação da civil Arbel Yehud (…) seja resolvida”, disse um comunicado do Gabinete do primeiro-ministro no sábado.
Exército deve se retirar
Desde sábado, a polícia palestina teve que impedir que os deslocados chegassem à área para evitar possíveis incidentes violentos com as forças israelenses, que estão bloqueando a passagem com tanques e veículos blindados. A ONU estima que cerca de 90% da população de Gaza (2,4 milhões) tenha sido deslocada pela guerra.
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Rafiqa Soubh, natural de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, desmontou no sábado a tenda em que ela e sua família haviam se abrigado temporariamente dos combates e das bombas.
— Queremos voltar, mesmo que nossas casas tenham sido destruídas. Sentimos falta de nossas casas — disse ela à AFP em Nuseirat, a cidade do sul mais próxima do corredor de Netzarim.
Na Cidade de Gaza, no norte do território, os moradores estavam esperançosos de rever seus parentes e vizinhos.
— Estou esperando por toda a minha família. Não consigo descrever minha empolgação — disse Alaa Rajab, um palestino de 21 anos. — Espero que eles retornem em segurança e que o exército se retire.
O destino dos deslocados depende agora, em parte, do que o Hamas fará com Arbel Yehud. Duas fontes do Hamas garantiram à AFP no sábado que ela estava “viva e com boa saúde”, e uma delas chegou a dizer que ela seria “libertada como parte da terceira troca” de prisioneiros, programada para sábado, 1º de fevereiro.