
O deputado federal Alencar Santana (PT-SP) classificou como “dia da vergonha, da infâmia” a sessão da Câmara dos Deputados que aprovou, na madrugada desta quarta-feira (10), o Projeto de Lei (PL) da Dosimetria, que beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), militares e outros presos por tentativa de golpe de Estados. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o parlamentar afirmou que o resultado representa um “desrespeito não só com o STF [Supremo Tribunal Federal], mas com o povo também”.
Segundo ele, ao aprovar o texto, a Câmara “está valorizando a impunidade” e aplicando dois pesos e duas medidas. “Essa turma disse que quer combater o crime, mas, pelos seus, vale o perdão. Para aquela mãe que furtou alguma coisa por uma necessidade, não há perdão algum”, comparou. Para o deputado, o projeto representa “um verdadeiro acinte, uma verdadeira violência contra o nosso povo”.
Santana também rebateu interpretações de que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), teria pautado a votação em troca de liberação de emendas. Para ele, o movimento foi resultado de um acordo político entre setores do centrão, bolsonaristas e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Foi feito um acordo, um pacto. Foi um verdadeiro dia da vergonha, que vai ficar na história como dia da covardia”, reforçou.
O deputado criticou, ainda, a condução de Motta durante o tumulto que culminou na expulsão do deputado Glauber Braga (Psol-RJ), na retirada da imprensa do plenário e em agressões da Polícia Legislativa contra jornalistas e parlamentares. “Foi um dia da violência, da humilhação provocada pela própria Câmara”, disse. Para ele, a postura do presidente da Casa foi “totalmente errática, beirando a irresponsabilidade”.
Santana avaliou, no entanto, que o projeto não deve prosperar. Ele afirma não acreditar que bolsonaristas serão soltos ainda este ano e prevê veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caso o texto passe pelo Senado. “Eu não tenho dúvida que o presidente Lula vetará esse ataque à democracia brasileira”, disse. O parlamentar também alertou que as mudanças aprovadas vão além da anistia aos golpistas e afrouxam a execução penal de diversos crimes, como corrupção, homicídio, crimes sexuais e infrações cometidas por organizações criminosas. “A consequência é gravíssima”, destacou.
Na análise sobre o impacto eleitoral, Santana avalia que a extrema direita vive um impasse interno. Ele vê fragilidade na pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e considera que a movimentação expôs o isolamento do grupo. “Eles podem ser ignorantes, mas não são burros. Eles perceberam que o centrão quer rapidamente abandoná-los”, analisou. Para o deputado, Flávio inviabiliza Tarcísio, e os dois polos da direita dependem um do outro. “Quem tem projeto, time e dialoga com o povo é o presidente Lula”, concluiu.
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