
O Festival Mulheres em Lutas Rio Grande do Sul (MEL-RS) transforma Porto Alegre no epicentro do debate feminista nesta sexta-feira (5) e sábado (6). O evento, que combina política, cultura e mobilização, coloca em pauta uma das questões mais urgentes do país: a escalada do ódio direcionado às mulheres nas redes sociais e seus desdobramentos trágicos na violência cotidiana e nos feminicídios.
A escolha do Rio Grande do Sul para sediar a edição é simbólica. O estado figura entre os que apresentam os maiores índices de feminicídio no Brasil, o que reforça o caráter de denúncia e mobilização. Para as organizadoras, o festival é um grito coletivo por “nenhuma a menos, nas redes ou nas ruas”.
Até 28 de novembro, o Observatório Lupa Feminista registrava 78 feminicídios no RS, acima dos 72 ocorridos em todo o ano de 2024. Dados do Observatório Estadual de Segurança Pública reconhece 69 casos até outubro.
“O MEL-RS é um momento para afirmar que o ódio não é opinião e que a violência contra as mulheres começa no discurso, mas termina em morte. Estamos aqui para celebrar a vida e exigir políticas, proteção e responsabilidade coletiva”, afirma Manuela d’Ávila, presidenta do Instituto E Se Fosse Você? e uma das fundadoras do Movimento Mulheres em Lutas.
O debate “Do ódio digital aos feminicídios” é o ponto central da programação, na noite de sexta-feira (5), na Praça da Matriz ,a partir das 18h. A mesa reúne Manuela d’Ávila, a filósofa e escritora Marcia Tiburi, a vereadora do Rio de Janeiro Monica Benício e a deputada federal Fernanda Melchionna. O diálogo busca conectar discursos de ódio, desinformação e violência política de gênero ao ambiente que legitima agressões e assassinatos de mulheres.
“Não é possível assistir ao aumento da crueldade, dos feminicídios e da violência contra as mulheres sem conectar isso ao discurso de ódio que vem sendo pregado e impulsionado nas redes sociais. O ódio contra mulheres se transformou em negócio: é lucrativo financeiramente e eleitoralmente, e seus efeitos recaem diretamente sobre a nossa vida real”, destaca Ávila.
A programação do MEL-RS ocorre em diversos pontos da cidade, incluindo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), o Centro Histórico, a Assembleia Legislativa, Cirandar e o Palco da Praça da Matriz. O festival atua como um chamado permanente à ação do poder público, das plataformas digitais e da sociedade.
Outro destaque é a inauguração da Casa MEL, um novo espaço permanente de articulação, cultura e resistência em Porto Alegre. A abertura oficial ocorre no sábado (6), na rua José do Patrocínio, 698, após o Bloco das Pretas, que fará um percurso da Praça da Matriz até a nova sede. A Casa MEL nasce como território de acolhimento, organização política e enfrentamento ao ódio e à violência contra as mulheres.
O Festival Mulheres em Lutas – RS reafirma a capital gaúcha como um território de resistência, construindo um espaço de denúncia e elaboração coletiva em defesa da vida das mulheres.
O festival conta com atividades que integram a cidade e as experiências femininas:
Debate: Mulheres na Ciência (sexta-feira, 10h às 12h): discussão sobre desafios e potencialidades, com lançamento da Revista Mandaçaia, no Centro Cultural da Ufrgs.
Encontro das parlamentares (sexta-feira, 14h às 17h): o encontro discutirá a violência política de gênero, ataques em rede e cassação de mandatos, com a presença de deputadas estaduais e vereadoras, no espaço Cirandar, rua Duque de Caxias, 1297 – Centro Histórico.
Atividades autogestionadas (sábado, 9h às 11h e 15h às 17h): plenárias e oficinas construídas por coletivos e movimentos, abordando temas como justiça climática, saúde mental de mulheres negras e autonomia econômica.
Clubes de Leitura Territorial (Sábado, 11h às 12h30): Debate final do projeto do Instituto E Se Fosse Você?, reunindo autoras gaúchas.
Cultura e Empreendedorismo: O evento inclui o Espaço Abelhinhas (para cuidado infantil) e a Feira do Empreendedorismo Feminino com mais de 25 expositoras.
A agenda cultural inclui apresentações de artistas e intervenções. Na sexta-feira (5), haverá intervenções de poetas e MCs, além da apresentação teatral “Manifesto de uma Mulher de Teatro” com Tânia Farias. No sábado (6), a programação começa com a recepção com MC’s THS Drop e Afroblack, seguida de almoço com apresentação cultural de Ana Clara Matielo, Clarissa Ferreira e Maryane Francescon. O dia conta ainda com stand-up comedy de Carol Delgado e a performance artística contra o feminicídio, com Tânia Farias, a partir das 17h.
A programação completa pode ser conferida neste link.