
O ex-presidente panamenho Ricardo Martinelli, que está refugiado há mais de um ano na embaixada da Nicarágua no Panamá para escapar de uma condenação por lavagem de dinheiro, afirmou nesta sexta-feira que seus inimigos políticos pretendiam matá-lo quando ele saísse da sede diplomática. A declaração foi feita uma semana após o governo do Panamá anunciar que concederia um salvo-conduto para que o antigo mandatário deixasse o país rumo à Manágua.
“O que eles queriam era me matar”, escreveu o ex-presidente, sem especificar quem, em uma mensagem nas redes sociais após o salvo-conduto concedido a ele pelo governo panamenho expirar à meia-noite de quinta-feira. “Era uma armadilha vil que estavam tentando armar. Por um lado, indicavam uma suposta saída, e por outro, queriam me ferrar inventando uma série de coisas”, acrescentou Martinelli, agradecendo à Nicarágua e anunciando que permanecerá no asilo.
Em nota, a chancelaria anunciou que a autorização expirou sem que o governo da Nicarágua concordasse em receber o ex-presidente, conforme anunciado na última segunda-feira, considerando a transferência uma “emboscada” ou uma “armadilha”. Ao conceder a medida, no entanto, o governo panamenho indicou à imprensa que o salvo-conduto foi oferecido “por razões humanitárias”, já que permitiria que Martinelli continuasse sua defesa “em condições mais favoráveis”.
Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores do Panamá, Javier Martínez-Acha, disse que o ex-presidente, que alega sofrer problemas de saúde, poderia “ter acesso, em liberdade, a tratamento ambulatorial que melhore significativamente sua qualidade de vida”. Ele também declarou que o salvo-conduto concedido pelo governo de José Raúl Mulino, amigo de Martinelli, teria como prazo improrrogável o dia 31 de março.
A Nicarágua, por sua vez, exigiu que o Panamá esclarecesse se havia solicitado um alerta vermelho da Interpol contra Martinelli, depois de a polícia panamenha ter confirmado no domingo que o aviso estava em andamento e logo após afirmado que a medida não era aplicável. O Panamá disse ter enviado à Nicarágua “toda a documentação solicitada” para confirmar que não houve alerta, mas ainda não recebeu resposta.
“Isso não afeta o reconhecimento de seu asilo diplomático”, escreveu a chancelaria panamenha em comunicado.
Martinelli, magnata de 73 anos que governou o Panamá de 2009 a 2014, refugiou-se na embaixada em fevereiro de 2024, logo após a sentença de quase 11 anos imposta a ele em 2023 por usar recursos públicos para adquirir um grupo de comunicação. Quando se asilou, ele era o favorito nas pesquisas para conquistar um segundo mandato nas eleições de maio de 2024. À época, ao ter seus direitos cassados, nomeou Mulino, então seu companheiro de chapa, como seu substituto na candidatura.
O caso Martinelli desencadeou uma crise bilateral, já que o governo da Nicarágua, sob liderança de Daniel Ortega, aproveitou a situação para acusar o Panamá de ter feito declarações ofensivas contra ele. Em dezembro, quando criticou o ativismo político de Martinelli em seu refúgio, o presidente José Raúl Mulino afirmou que essa situação violava as regras de asilo, mas que a Nicarágua “não tem Deus nem lei”.
Martinelli, que se diz vítima de perseguição política, também é acusado em julgamento marcado para novembro no escândalo de propina envolvendo a construtora brasileira Odebrecht. (Com AFP)