Alessio Bax chegou ao Rio depois de uma intensa programação em São Paulo, em que se apresentou trazendo na bagagem cerca de cinco horas de músicas, somadas todas as obras que foram executadas ao longo de quatro dias. No Rio, o pianista italiano e sua gangue de seis músicos terão uma única apresentação, nesta segunda-feira (24), no Theatro Municipal, abrindo a edição 2025 da Série O GLOBO/Dellarte de Concertos Internacionais, que completa 30 anos nesta temporada.
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Trata-se de um recital de música de câmara baseado em Poulenc, Rachmaninov e Schubert (o célebre quinteto “A Truta”), em que o pianista e seu grupo de música de câmara – do qual se destaca sua mulher, a violinista americana Lucille Chung – apresentarão uma abordagem lúcida e sem exageros, se levarmos em consideração a crença do italiano no que é interpretação.
— A liberdade vem da própria música. Essas grandes obras de arte são muito maiores do que nós, e muito melhores do que aquilo que podemos fazer com elas — diz Bax. — Todos os dias encontramos coisas novas, esperando estar cada vez mais perto da verdade delas. O frescor vem da humildade e de olhar para essas partituras com olhos sem viés e um coração aberto.
Nascido na cidade costeira de Bari, Bax não se entusiasma muito com os clichês do que seria uma interpretação musical “mediterrânea”, vibrante e ensolarada — confessa inclusive não se dar bem com a água, embora goste das vistas de sua cidade natal e do Rio, onde já se apresentou algumas vezes. Em 2013, esteve em duo com o espetacular violinista Joshua Bell e, em 2023, com o clarinetista Andreas Ottensammer.
— Fico bastante enjoado no mar, mas adoro a brisa e ficar olhando para o horizonte — reflete.
Desde que foi indicado vencedor de concursos enquanto menino prodígio do piano, o italiano trafegou por diversos países, encontrando residência finalmente nos Estados Unidos, sem deixar de revisitar a Itália anualmente, como diretor artístico de um festival em Siena.
Sobre o repertório especificamente, Bax reforça o discurso de muitos instrumentistas de que a camaradagem da música de câmara é a experiência mais divertida. Como o repertório coloca o francês Poulenc e o germânico Schubert em diálogo com o russo Rachmaninov, é difícil não ver um sonho de civilização cada vez mais distante, considerando-se a difícil situação da Europa entre as relações de Vladimir Putin e Donald Trump, com a Ucrânia no meio disso tudo. Bax evita digressões políticas, mas dá suas pistas.
— Música é o perfeito exemplo de civilização. E música de câmara, o perfeito exemplo da democracia — define. — Cada músico tem um papel importante, e uma voz individual, mas todas as nossas vozes juntas criam algo muito maior do que nós. Não se trata de fazer concessões, ou de achar um meio-termo, mas de somar todo o nosso conhecimento e nossas características especiais para criar uma obra orgânica de arte, que é melhor do que aquilo que podemos fazer sozinhos.
Em termos de tradição musical, a obra de maior prestígio no programa é o quinteto “A Truta”, no qual Schubert desenvolveu uma canção numa obra de cinco movimentos, com uma rara inclusão do contrabaixo na formação de câmara para a época. Na apresentação, o instrumento será empunhado por Nabil Shehata.
Esse ganho na parte grave permite que o piano viaje por paisagens melódicas mais arejadas — exatamente o que Franz Schubert fez aos 22 anos, quando compôs a peça, deixando a urbanidade de Viena para um passeio no campo.
Onde: Theatro Municipal. Quando: Seg, às 19h. Quanto: De 42,36 a R$ 600. Classificação: 10 anos.