

O Brasil vive hoje um desequilíbrio institucional que combina tensão, desconfiança e competição aberta entre os poderes. O Executivo governa sob a lógica eleitoral de 2026, mais preocupado com fidelizar sua base social do que com reformas estruturais. Enquanto, o Legislativo reage ampliando privilégios, aprovando medidas de impacto fiscal elevado e blindagens políticas para sobreviver à própria impopularidade. E o Judiciário, percebendo o vácuo de autoridade, avança sobre pautas que antes pertenciam à arena política, assumindo papel de árbitro permanente, e por vezes protagonista.
O resultado é um sistema em que cada poder atua por instinto de sobrevivência, e não por compromisso com um projeto nacional. Não há prioridade comum, coordenação ou visão de futuro. Há apenas movimentos táticos, decisões improvisadas e disputas de território político. Num ambiente assim, qualquer política pública se torna refém do conflito.
A crise não é ideológica. É estratégica. O Brasil não discute produtividade, inovação, educação, infraestrutura, reforma administrativa ou competitividade global. Não se discute sequer como preparar o país para um mundo dominado por tecnologia, transição energética e disputa geopolítica entre grandes potências.
A agenda nacional está sequestrada por:
Enquanto Brasília gira em torno de si mesma, o país real, pobre, desigual, com serviços públicos colapsados, segue sem direção, sem liderança e sem horizonte. O problema não é apenas moral. É econômico. Um país sem projeto não cresce.
Mercados não convivem bem com o improviso. A disputa permanente entre os Poderes cria o pior cenário possível para quem investe:
Investidores, domésticos e internacionais, observam que o Brasil está preso em um ciclo de autopreservação política, sem reformas, sem clareza e sem estabilidade.
O efeito é direto:
E em países emergentes, a saída de capitais acontece de forma súbita.
Basta um gatilho político, um conflito entre Poderes, uma decisão judicial controversa, uma ruptura fiscal, para desencadear fuga em massa.
O resultado é conhecido:
Toda economia produtiva é penalizada, incluindo o agro, que sente imediatamente a pressão sobre os custos e a desvalorização de receitas.
Nenhum país cresce com poderes em guerra. E nenhum investidor permanece onde o próprio Estado parece caminhar sem rumo.
O país tem potencial extraordinário: energia barata, agro competitivo, matriz limpa, recursos naturais únicos, população empreendedora. Mas falta o essencial: projeto nacional, liderança estável e coordenação mínima entre os poderes. Enquanto Brasília trava guerras internas, o Brasil real,o que produz, trabalha e investe, fica à deriva.
Se o país não recuperar previsibilidade institucional, pode perder mais do que o futuro.
Pode perder o presente: crescimento, empregos, investimentos e até a confiança que ainda resta. E sem confiança, nenhum país se sustenta.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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