
A vida no campo sempre foi sinônimo de resiliência, mas nos últimos anos o produtor rural brasileiro tem enfrentado um inimigo cada vez mais difícil de controlar: o aumento constante dos custos de produção. O que antes era planejado em planilhas e projeções hoje se transforma em um verdadeiro malabarismo para equilibrar gastos e manter a produção em pé.
Os insumos agrícolas — defensivos, fertilizantes, adubos e até a mão de obra — têm sofrido com a alta de preços, em grande parte influenciada por:
Variação cambial: como boa parte dos fertilizantes e defensivos são importados, a oscilação do dólar impacta diretamente o bolso do produtor.
Cenário internacional: conflitos geopolíticos, como a guerra no Leste Europeu, afetaram a oferta de potássio e outros minerais essenciais.
Custos logísticos: o frete internacional e interno também encarece o transporte até o produtor.
Inflação agrícola: insumos básicos acompanham a pressão inflacionária mundial e nacional.
No campo, o resultado é direto: margens de lucro cada vez mais apertadas e dificuldade em investir em tecnologia ou expandir a produção.
“Não é apenas plantar e colher. É preciso calcular cada passo, porque o preço de um saco de adubo hoje pode não ser o mesmo amanhã, e isso afeta toda a cadeia produtiva”, relata um agricultor do Triângulo Mineiro.
O desafio vai além do custo. A instabilidade cria incertezas: vale a pena comprar insumos antecipadamente, mesmo com preços altos, ou esperar e correr o risco de pagar ainda mais caro depois? Essa tomada de decisão se tornou parte da rotina, exigindo que o produtor rural também atue como gestor financeiro e estratégico.
A seguir, uma comparação que ilustra a evolução média dos custos de alguns insumos fundamentais para a produção agrícola no Brasil (valores fictícios para fins de ilustração):
| Ano | Defensivos Agrícolas | Fertilizantes | Adubos | Mão de Obra |
|---|---|---|---|---|
| 2020 | +15% | +20% | +12% | +8% |
| 2021 | +25% | +32% | +18% | +10% |
| 2022 | +40% | +55% | +27% | +12% |
| 2023 | +30% | +45% | +22% | +15% |
| 2024 | +20% | +28% | +15% | +10% |

Portal Uberlândia no Foco — Foto: Portal Uberlândia no Foco
Alimento mais caro no prato do consumidor: o aumento dos custos no campo inevitavelmente chega à mesa das famílias, elevando o preço de itens básicos.
Pressão sobre a sustentabilidade: com insumos mais caros, muitos produtores deixam de investir em práticas sustentáveis ou em tecnologias de agricultura de precisão.
Migração de trabalhadores: a mão de obra rural também enfrenta desafios, com falta de jovens dispostos a permanecer no campo.
Especialistas apontam algumas estratégias que podem ajudar a reduzir o impacto dos custos:
Cooperativismo: compras coletivas de insumos reduzem o preço unitário.
Inovação tecnológica: agricultura de precisão, automação e uso de bioinsumos podem melhorar a produtividade e reduzir desperdícios.
Políticas públicas: linhas de crédito e programas governamentais podem garantir maior previsibilidade ao produtor.
Gestão eficiente: planejamento financeiro e monitoramento constante do mercado se tornaram essenciais.
A agricultura brasileira é referência mundial em produtividade, mas a sustentabilidade econômica do setor depende da capacidade de enfrentar a escalada de custos sem perder competitividade.
No fim das contas, o peso invisível do campo não está apenas na terra ou na colheita, mas nas planilhas e estratégias que calculam cada centavo investido — e que podem definir o futuro da produção de alimentos no país.