Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO, e nessa newsletter você encontra análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político.
Interrompemos a programação de entrevistas da newsletter com estrategistas de campanha e donos de institutos de pesquisas para trazer um levantamento inédito e fresquinho sobre a eleição para o governo do Rio em 2026. Feito pelo Instituto Ideia com 1.037 pessoas, em 21 de fevereiro, a pesquisa traz recados importantes para o mundo político fluminense, que se articula pela sucessão do governador Cláudio Castro (PL).
Embora ainda negue a pretensão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), parece, até agora, o único reconhecido pela população como um postulante ao cargo. Para o Senado, a pesquisa aponta um favoritismo de Flávio Bolsonaro na busca pela reeleição e uma disputa acirrada pela segunda vaga, com vários nomes competitivos podendo crescer ao longo da campanha.
Para governador, o Ideia testou quatro cenários estimulados e a rejeição dos candidatos. Abaixo, os números, com meus comentários em seguida.
- Eduardo Paes – 36%
- Rodrigo Bacellar – 4%
- Thiago Pampolha – 1%
- Ninguém/Branco/Nulo – 26%
- Não sabe – 33%
- Eduardo Paes – 34%
- Rodrigo Bacellar – 4%
- Washington Reis – 4%
- Ninguém/Branco/Nulo – 24%
- Não sabe – 34%
- Eduardo Paes – 32%
- Tarcísio Motta – 5%
- Rodrigo Bacellar – 4%
- Fabiano Horta – 2%
- Thiago Pampolha – 1%
- Ninguém/Branco/Nulo – 23%
- Não sabe – 33%
- Eduardo Paes – 31%
- Rodrigo Bacellar – 4%
- Tarcísio Motta – 4%
- Thiago Pampolha – 2%
- Fabiano Horta – 2%
- Italo Marsilli – 1%
- Ninguém/Branco/Nulo – 23%
- Não sabe – 32%
- Washington Reis – 29%
- Eduardo Paes – 26%
- Tarcísio Motta – 21%
- Rodrigo Bacellar – 18%
- Thiago Pampolha – 18%
- Italo Marsili – 15%
- Fabiano Horta – 12%
- Não rejeito ninguém – 32%
Você, leitor, precisa saber que falta ainda muita água rolar na disputa pelo Palácio Guanabara e que provavelmente nada do que aparece agora nas pesquisas será realidade em outubro do ano que vem. É fato, por exemplo, que um candidato anti-Paes irá crescer nas pesquisas, assim como Alexandre Ramagem o fez na eleição de 2024 para a prefeitura.
Há, contudo, observações importantes a serem feitas: 1) Ao contrário do que se esperava, a possibilidade de Paes deixar a prefeitura no meio do mandato para concorrer a governador não despertou insatisfação no eleitorado até o momento. Para um político no quarto mandato, que enfrentou acusações na Lava-Jato e lidou com governos de esquerda e direita em Brasília, a rejeição do prefeito está em patamares muito baixos. Seus adversários também estão com índices positivos, mas ainda com taxa de conhecimento baixa. Paes, não, até porque já foi derrotado duas vezes para o governo do Rio (2006 e 2018). 2) Cláudio Castro anunciou Rodrigo Bacellar, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, como seu candidato. Mas será que polarizar já no primeiro turno sem outras candidaturas do campo do governador não será perigoso? Tirar o vice-governador Thiago Pampolha da corrida é a melhor estratégia? Incentivar o coach Italo Marsili, em negociações para se filiar ao Novo, é uma boa ideia ou o feitiço pode se virar contra o feiticeiro, como aconteceu com Pablo Marçal em São Paulo, ao atritar com a direita bolsonarista?
Os “anti-Paes” apostam no desgaste do governo Lula e em colá-lo ao petista na campanha. Embora a pesquisa tenha testado cenários com o PT lançando a candidatura do ex-prefeito de Maricá, Fabiano Horta, o mais provável é que haja uma aliança do prefeito com a esquerda em 2026. Já o PSOL deverá, sim, ter candidato, mas não necessariamente o deputado federal Tarcísio Motta, que acaba de sair de uma eleição ruim para prefeito. Outro cenário testado, com a presença do ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, por ora é considerado inviável. Aliado de Cláudio Castro, ele está inelegível após condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime ambiental. O emedebista, tenta, contudo, reverter a sentença em recurso em tramitação na Corte. Se estivesse em condições de disputar, certamente seria o candidato preferido do governador.
A questão é que a pergunta abaixo, feita pelo Ideia nesta pesquisa, complica a vida dos aliados de Castro para 2026.
O instituto perguntou: “O Rio de Janeiro está no rumo certo?”
Para o Senado, eis os números dos pré-candidatos.
- Flávio Bolsonaro – 40%
- Cláudio Castro – 28%
- Benedita da Silva – 26%
- Alessandro Molon – 16%
- Otoni de Paula – 16%
- Não rejeito ninguém – 26%
Aqui, valem duas observações: 1) Os números mostram que a esquerda pode ficar sem vaga caso aposte no equívoco de 2022, quando Alessandro Molon e André Ceciliano se lançaram e dividiram os votos do campo. O PSOL, se também tiver uma candidatura ao Senado, pode dificultar ainda mais a situação. 2) Cláudio Castro não terá vida fácil caso queira mesmo buscar uma cadeira de senador junto com Flávio Bolsonaro. Além de lutar contra a esquerda, o governador pode ter que enfrentar outros candidatos de direita nas urnas. Eles só não apareceram ainda.
Violência, o principal problema. Mas, afinal, o que preocupa mais: tráfico ou milícia?
O Ideia também quis saber de seus entrevistados qual deve ser a prioridade do próximo governador. Para a surpresa de zero pessoas, a violência está no topo das preocupações de quem mora no Rio.
Qual deve ser a prioridade do próximo governador?
- Melhorar a segurança pública – 44%
- Combater a corrupção – 13%
- Melhorar a saúde pública – 8%
- Investir na educação – 7%
- Criar empregos – 6%
- Combater a inflação – 6%
- Ajudar economicamente pessoas vulneráveis – 4%
- Ajudar economicamente pequenas e médias empresas – 2%
- Investir em obras estruturais – 1%
- Investir na recuperação / preservação do meio ambiente – 1%
- Melhorar o transporte público – 1%
- Outros – 2%
- Não sabe – 4%
Os dados explicam o foco de Cláudio Castro e Eduardo Paes no tema segurança pública nas últimas semanas. O prefeito enviou para a Câmara de Vereadores um projeto de lei que cria a Força de Segurança Municipal Armada e, em entrevista recente ao GLOBO, detonou o governo do estado na área: “Não sou comentarista da política de segurança, até porque nem sei se existe uma”.
Na última edição de VEJA, Castro se defendeu das críticas e focou em apontar problemas do governo federal. “Quem tem Ministério da Fazenda, Coaf e Receita Federal são eles. Recentemente, identificamos uma quitanda que vendeu R$ 30 milhões em um ano. Não fecha a conta. Outro ponto é a política de fronteiras (…). O Brasil não dialoga sobre combate ao crime com seus vizinhos”, disse.
Uma última pergunta relevante da pesquisa do Ideia. Qual a principal ameaça para o Rio? O eleitor respondeu assim:
- Tráfico – 53%
- Milícia – 24%
- Jogo do bicho – 1%
- Outros – 8%
- Não sabe – 13%
Na semana que vem, voltaremos com a série com os estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisa. Abaixo as quatro conversas publicadas até agora. Bom carnaval!
- ‘Eleição de 2026 será de mudança’: A entrevista com Renato Pereira
- ‘Economia e direita esfacelada tornam Lula favorito para 2026’: A entrevista com Marcello Faulhaber
- ‘Fenômeno global de dificuldade de reeleição de governantes impacta Brasil e Lula para 2026’: A entrevista com Maurício Moura
- ‘Direita não se resume a Bolsonaro, mas vaidade vai levá-lo a manter a candidatura a presidente até o fim’: A entrevista com Marcos Carvalho
“Mulheres não gostam de homens que resmungam”. Gosto demais da frase dita pela atendente de um bar para Hirayama, personagem principal do filme indicado ao Oscar de melhor produção estrangeira do ano passado (sim, chegamos atrasados por aqui, mas, como sempre digo, nunca é tarde). Hirayama acorda todo dia, rega suas plantas, põe o uniforme, entra na sua van, coloca suas músicas prediletas para tocar, trabalha limpando os impecáveis banheiros públicos de Tóquio, aprecia tirar foto de árvores e ler seus livros antes de dormir. Em silêncio, porém com dedicação total e um sorriso. Uma ode à simplicidade, como escreveu Suzana Schild, no GLOBO.
É possível ver o filme por outro aspecto, como ressaltou o crítico Francisco Escorsim na Gazeta do Povo. E vem spoiler por aí, atenção se você, leitor, não gosta. Ao longo da segunda metade do filme, descobrimos que Hirayama afastou-se da família e sofre por isso. Ou seja, a solitude bem resolvida na verdade esconde traços de solidão incômoda. O filme, portanto, não entrega apenas “a rotina de um homem satisfeito com a vida, mas deixando em aberto a possibilidade de ser o contrário disso, de Hirayama ser alguém ‘parado no tempo’ e com medo do futuro, fazendo do apego à rotina também uma forma de fugir de sua vida”, escreve Escorsim. A magistral cena final de “Dias perfeitos”, com Hirayama rindo e chorando ao mesmo tempo enquanto dirige, ilustra perfeitamente a ambivalência da vida.