Dez anos após a descoberta de um estranho alinhamento de nebulosas planetárias perto do centro galáctico, o mistério parece ter sido solucionado pelos autores de um novo estudo. Ao analisar mais de 100 objetos, a equipe encontrou evidências de que as nebulosas alinhadas se formaram a partir de estrelas binárias, e não de uma única estrela.
Quando uma estrela de até oito vezes a massa do Sol está chegando ao fim de sua vida, suas camadas externas se expandem, aumentando seu diâmetro em milhões de quilômetros. Essa etapa, conhecida como gigante vermelha, antecede a “morte” da estrela propriamente dita.
À medida que perde pressão devido à falta de combustível para realizar a fusão nuclear, a gigante vermelha ejeta suas camadas, que por sua vez formam uma nebulosa de emissão (o apelido “nebulosa planetária” é errôneo, já que elas são estão relacionadas a planetas).
No coração da nebulosa, o remanescente estelar — o núcleo “despido” da estrela — ainda brilha, iluminando a nuvem de gás e poeira ao seu redor com luz ultravioleta, ionizando os componentes da nebulosa. O resultado da ionização é a emissão de um brilho próprio e característico dos elementos que a compõem (exceto quando há pouca luz ultravioleta para a quantidade de massa na nebulosa; nesse caso ela se tornará uma nebulosa de reflexão).
Há 10 anos, o pesquisador Bryan Rees descobriu que algumas dessas nebulosas localizadas perto do bojo da Via Láctea (a região mais espessa e amarelada da galáxia) se alinham da mesma maneira e estão quase paralelas ao plano galáctico, sem que ninguém soubesse explicar o motivo.
Agora, a nova pesquisa de uma colaboração de cientistas da Universidade de Manchester e da Universidade de Hong Kong, usando o Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul no Chile e o Telescópio Espacial Hubble, não apenas confirmou o alinhamento, mas também encontrou algo em comum: todas as nebulosas alinhadas são formadas por estrelas binárias próximas.
No universo, é muito comum estrelas se formarem em duplas, passando suas vidas orbitando uma à outra e recebendo o nome de estrelas binárias. Quando uma delas “morre” gerando uma nebulosa planetária, sua companheira permanece em sua órbita, o que, em alguns casos, parece influenciar no alinhamento descoberto por Rees.
De acordo com a nova pesquisa, que analisou 136 nebulosas planetárias no bojo galáctico, além de outras 40 usadas no estudo da descoberta inicial, o alinhamento com o plano galáctico está presente apenas em nebulosas planetárias cujo remanescente tem uma estrela companheira próxima — a uma distância menor do que aquela entre Mercúrio e o nosso Sol.
Em distâncias tão curtas, a companheira completa uma volta ao redor da principal em alta velocidade e pode até espiralar até cair dentro dela. Isso sugere duas implicações: a primeira é que esse movimento orbital pode moldar o formato da nebulosa, e a segunda é que os sistemas binários de estrelas próximas se formam preferencialmente com suas órbitas alinhadas com o plano da galáxia.
O estudo foi publicado no Astrophysical Journal Letters.
Fonte: Astrophysical Journal Letters, Universidade de Manchester