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Prevenção ainda é a melhor forma de aumentar as chances de vencer o câncer

Lurana Glória Guimarães terminou sua graduação em Gestão de TI. Já havia pedido para sair do trabalho em que estava havia 14 anos para mudar de cidade e cursar uma outra faculdade, em Londrina (PR). Mas isso vai ter que esperar, por enquanto. Após um autoexame nas mamas, aos 32 anos, ela identificou algo que parecia fora do normal. A mãe logo disse que ela precisaria procurar sua médica.

“Marquei com a minha ginecologista, que pediu uma mamografia. Fiz numa sexta-feira e, na segunda-feira seguinte, ela me ligou e disse que havia alterações no exame. Fui encaminhada para o mastologista. Ele pediu a biopsia.”

No dia 28 de junho deste ano, chegou o diagnóstico: carcinoma micropilar invasivo grau II de Nottingham na mama esquerda.

“Passaram-se mil coisas pela minha cabeça. Todos os meus planos vão ter que esperar, e o que posso fazer agora é focar no meu tratamento”, afirmou Lurana com voz firme e com a atitude de quem vai vencer essa batalha.

Mas a vida dela não parou. A jovem participa de uma startup que oferece serviços de mulheres: reforma, pintura predial, eletricidade. Ela se inscreveu num sorteio de mecânica para mulheres e ganhou. Também começou a fazer aulas de bateria, algo que tinha vontade havia muito tempo, e o curso de Letras EAD. Afastada do trabalho pelo INSS por um ano, ela tenta manter uma rotina normal.

“Eu pensei que seria pior, sinceramente. Foi um choque quando recebi a notícia, mas acho que estou administrando bem. Não vou me entregar para a doença. A pior fase da químio (vermelha) já passou, entre junho e setembro. Agora, com a fase branca, estou mais forte, e o pessoal até comenta que eu saio muito! Em janeiro devo fazer a cirurgia.”

A postura de Luana tem muito a ver com os profissionais que a assistem. “Estou bem amparada e me considero privilegiada por ter essa equipe e minha mãe me acompanhando. Estou enfrentando um tumor maligno que já está diminuindo.”

QUALIDADE DE VIDA
Casos como o de Lurana, diagnosticados precocemente, têm chance de cura de 90%, e, com o aumento do número de casos, os cancerologistas intensificam a busca pela cura. O câncer hoje é visto como uma doença crônica, tal qual HAS ou diabetes. Com os avanços das modalidades de tratamento, a sobrevida aumentou – e a preocupação com a qualidade de vida também. O paciente com câncer hoje pode e deve viver bem, segundo Kellen Cristina Reis de Oliveira e Silva, oncologista e pós-graduanda do curso de Medicina Integrativa da Uniube em Uberlândia.

“Os avanços no tratamento levam a premissa básica de conhecer o paciente portador da doença e os mecanismos celulares envolvidos nela. Daí surgiram os tratamentos que visam a restaurar a saúde do paciente, como a nossa visão integrativa de ‘tratar’ o terreno biológico e a oxigenoterapia, por exemplo, e tratamentos ditos convencionais, como a imunoterapia, além do recente e ainda em pesquisa clínica CART-cell, terapia genética que induz as células do paciente a reconhecerem como impróprias as células tumorais”.

Segundo Rogério Araújo, oncologista do Hospital do Câncer em Uberlândia, a cura do câncer é fundamentada em três princípios: prevenção, tratamento e pesquisa. O mais impactante para o tratamento do câncer é mesmo a prevenção, com medidas teoricamente simples e baratas, mas de implantação difícil, pois mudar hábitos de vida de uma população é extremamente frustrante.

E o tratamento só evoluiu graças à pesquisa. Há progressos na cirurgia e na radioterapia (tratamentos localizados, retirando-se ou irradiando-se o órgão doente), mas quase sempre é preciso usar um tratamento sistêmico (quimioterapia), pois os tumores, mesmo aqueles ainda pequenos, podem gerar metástases a distância.

“Para esterilizar ou matar essas células, precisamos de um tratamento que circula em todo o corpo. Graças a pesquisas, foram incorporados os quimioterápicos tradicionais, a partir dos anos 1960, aumentando a possibilidade de cura, por matar essas células que estavam longe do tumor de origem. Esses fármacos apresentam muitos efeitos colaterais, mas ainda são essenciais para a cura.”

Ele conta ainda que, a partir do ano 2000, começaram a surgir drogas inteligentes na chamada terapias-alvo. Descobriu-se que muitas células cancerosas possuíam algumas marcas diferentes das células normais do corpo. Assim, essas drogas foram desenhadas para matar apenas as células que tivessem aquelas marcas, o que aumentou a chance de cura com menos toxicidade, reduzindo-se o uso dos quimioterápicos. Mas ainda é necessária a associação da terapia-alvo e com o quimioterápico na maioria dos tumores para se tentar alcançar a cura.

A partir de 2015, também graças a pesquisas, surgiu uma nova frente de tratamento: os fármacos imunológicos. Foram descobertos mecanismos para destravar o sistema imunológico dos pacientes com câncer. As novas drogas permitem que as células de defesa do paciente colaborem na destruição do câncer.

Araújo comemora o fato de essa descoberta render um prêmio Nobel de Medicina para um pesquisador americano e outro japonês em 2018. “E alguns tumores, como o melanoma e o câncer de pulmão, mesmo metastáticos, com a associação da cirurgia, da radioterapia, da quimioterapia clássica, da terapia-alvo e dos imunológicos, hoje podem ser curados. O uso desses imunológicos deve ter uma indicação precisa e não serve para todos os pacientes.”

ALTO CUSTO
Há mais de três mil imunológicos em pesquisa no mundo, e muitos deles já foram incorporados à rotina de tratamento pelo cancerologista. O problema é o preço. O tratamento pode ultrapassar US$ 100 mil ao ano por paciente e ainda não foi incorporado aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

“Quando há indicação precisa dessa nova droga, o que fazemos é sugerir ao paciente para iniciar uma ação judicial contra a União. Na maioria das vezes, o paciente ganha a ação e consegue, com algum atraso, ter acesso a esses imunológicos. Assim, graças a pesquisas, o tratamento contra o câncer está cada vez mais preciso. Mas a prevenção ainda é o melhor caminho. Tomar sol adequadamente, não fumar, não beber, fazer sexo seguro e não engordar reduz em até 80% o risco de desenvolver o câncer”, finalizou Rogério Araújo.



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