Nesta semana, um anúncio do Grupo Renault prometeu mexer com o mercado brasileiro de automóveis, principalmente entre os elétricos e híbridos. A empresa confirmou um acordo inicial com a chinesa Geely Holding onde a asiática se tornará sócia minoritária nas operações da Renault do Brasil e ganhará acesso à fábrica de São José dos Pinhais (PR) e à rede de distribuição da marca de origem francesa.
O comunicado foi em conjunto e a Geely admitiu que seus planos com a parceria na operação brasileira da Renault envolvem a produção e venda de veículos “de zero ou baixa emissões”. Ou seja, a empresa oferecerá veículos elétricos e híbridos por aqui. Enquanto isso não de concretiza, agora talvez seja a melhor hora de relembrar a história da Geely, que hoje já é dona da Volvo, tem participação na Daimler (da Mercedes-Benz), tem fábrica de motocicletas e já se embrenha até pelo caminho de carros voadores.
Foto de: Car News China
Cópia de Mercedes-Benz Classe E com base de Audi 100 foi o primeiro carro da Geely
De geladeiras a conglomerado automotivo
Oficialmente, a Geely considera sua fundação em 1986. Na época, o agora chefão da empresa Li Shufu iniciou uma companhia que fornecia equipamentos para geladeiras. Em 1994, a marca expandiu para a produção de motocicletas também. A fabricação de carros veio somente em 1997, com um carro que usava a base de um velho Audi 100 e visual “emprestado” de um Mercedes Classe E da época.
Ainda era uma produção quase que artesanal e o primeiro carro com produção em maior escala a chegar às ruas chinesas foi o Geely Haoqing, em 1998. A marca usou um projeto da Daihatsu e começou a oferecer um hatchback compacto e mais acessível, o que se tornaria o padrão para a Geely em seus primeiros anos.

Foto de: Geely
No entanto, o que impressiona mesmo é a rápida evolução da Geely como fabricante. Em 2005, a empresa comprou uma participação na Manganese Bronze holding, então responsável pela fabricação dos clássicos táxis londrinos. Hoje, a Geely é dona da produção e marca dos carros hoje se chama London Electric Vehicle Company (LEVC). Em 2009, foi a vez de adquirir a australiana DSI, então segunda maior produtora de transmissões automáticas do mundo. Mas o maior passo viria no ano seguinte.
Comprando a Volvo e se expandindo
Em 2008, a Volvo pertencia à Ford. Mas a crise econômica causada por financiamentos irresponsáveis no setor imobiliário dos EUA jogou a economia de lá em uma crise, obrigando a marca do oval azul a repensar suas estratégia. Foi aí que entrou Geely, pegando a operação da sueca para si e aproveitando o conhecimento da Volvo para desenvolver seus próprios carros.
A famosa arquitetura SPA da Volvo e uma linha de novos motores de 3 e 4 cilindros foi desenvolvida sob o controle da Geely. E também foi com os chineses que a marca sueca atingiu o marco de 500 mil unidades vendidas em um ano pela primeira vez, em 2015.
Em 2016, foi a vez lançar a Lynk & Co, que servia como ponte entre os carros das marcas Geely e Volvo. Já em 2017, a Geely comprou 51% da britânica Lotus. No mesmo ano, adquiriu a Terrafugia, desenvolvedora de carros voadores. Em 2021, foi a vez lançar a marca Zeekr, voltada a carros elétricos premium e que está de passaporte carimbado para o Brasil. No mesmo ano, deu início às primeiras parcerias com a Renault. Primeiramente nas operações da francesa na Coreia do Sul e, em 2024, como sócia na HORSE, divisão de conjuntos motrizes. que também já opera no Brasil.
Em 2024, o grupo Geely totalizou 3.356.534 veículos produzidos entre suas marcas. São mais de 15 delas, passando ainda por nomes como Proton, Radar e uma participação na Smart.

Foto de: Geely
Geely GC2 foi vendido no Brasil
Experiência frustrada no Brasil
Nem todos vão lembrar, mas a Geely já esteve presente no Brasil. A operação começou em 2014 pelas mãos do Grupo Gandini, então responsável pela operação também da Kia no Brasil. A marca começou a operar com o sedã EC7 (foto de abertura do texto), seguido pelo GC2, carinhosamente apelidado de “Panda” pelo grande conjunto ótico frontal.
O EC7 era um sedã médio para os padrões da época, com motor 1.8 a gasolina de 130 cv de potência e 16,9 kgfm de torque. Tinha 4.635 mm de comprimento e 2.650 mm de entre-eixos. Medidas muito similares às do Toyota Corolla da época, mas o Geely tina acabamento mais simples, embora fosse mais em conta.
Já o Panda era um legítimo subcompacto, com 3.598 mm de comprimento (pouco mais que um Fiat Mobi de hoje) e 2.340 mm de entre-eixos. A questão era o bagageiro: apenas 205 litros. Sob o capô estava um motor 1.0 de 3 cilindros a gasolina com 68 cv de potência e 8,9 kgfm de torque. Na época, chegou para brigar com conterrâneos como JAC J2 e Chery QQ.
A questão foi o timing. Em 2014, o Brasil já estava praticando o famigerado “super IPI” para dificultar a expansão da segunda onda de carros chineses que começavam a ganhar espaço com preços baixos e bom custo-benefício, ainda que com o contraponto de uma qualidade inferior. Foram anos de quedas nas vendas para as chinesas e o Grupo Gandini determinou a suspensão das vendas dos carros da Geely no Brasil em 2016, com o fim oficial da operação ocorrendo em 2018.
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