Quando algo está errado, a fisioterapia pode ser a melhor aliada. Regulamentada há 50 anos no Brasil, é definida como uma profissão da saúde, uma ciência que estuda, diagnostica, previne e recupera pacientes com distúrbios de movimento e função de órgãos e sistemas do corpo humano das mais variadas causas. “Com o objetivo de preservar, manter, desenvolver ou reabilitar, a fisioterapia utiliza conhecimentos e recursos próprios como ferramentas terapêuticas”, explica a doutora Mara Rúbia Franco Teixeira.
Atuando em ortopedia, traumatologia, cardiovascular, neurologia, reumatologia, fisioterapia desportiva, oncologia, saúde do idoso, dermatologia, entre outras áreas, manter-se atualizado é o maior desafio do profissional. “A capacitação e a constante atualização são essenciais para se oferecer um atendimento de qualidade ao paciente”, afirma Mara Rúbia, graduada em Fisioterapia pela Universidade Metodista de Piracicaba (SP), com mestrado e duas pós-graduações.
Ensinar é outra paixão. Atualmente, leciona Interação Comunitária VI nas áreas de concentração Saúde do Idoso, Saúde do Homem, Dependência Química e Saúde do Trabalhador no curso de Medicina do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos (Imepac), em Araguari, e, desde 2017, é sócia proprietária da Sênior Saúde 360º Soluções Gerontológicas, em Uberlândia.
A fisioterapeuta explica que, ao se trabalhar como fisioterapeuta, algumas características pessoais são importantes para conseguir o melhor resultado terapêutico. Gostar de cuidar de pessoas, ser paciente e ser capaz de motivar as pessoas a superar limitações são exemplos. “A adesão ao tratamento é essencial para sua efetividade, e essa adesão depende da motivação. Porém, alguns autores da psicologia afirmam que a motivação é algo interno que se relaciona com o externo, e minimizar ou até eliminar fatores que possam dificultar essa motivação se torna crucial.”
Estabelecer um bom vínculo entre paciente e terapeuta é importante. Para isso, alguns cuidados devem ser tomados, como planejar uma sessão ativa, dinâmica, mesmo em casos de muita limitação funcional, para que a realização dos exercícios seja prazerosa; explicar seu plano terapêutico, fazer o paciente se sentir responsável e parte do processo e evidenciar as conquistas, por menores que sejam.
Com 29 anos de carreira, Mara Rúbia teve o primeiro contato com a fisioterapia aos 12 anos, quando acompanhava o irmão caçula, que era asmático, nas sessões de fisioterapia respiratória. Na adolescência fez dança e jogava pelo colégio que estudava e precisou de atendimento fisioterapêutico algumas vezes. “Eu sempre soube que faria algo relacionado à saúde, sempre tive afinidade com matérias de ciências e biologia e sempre gostei de gente. O sofrimento alheio sempre me importou. Sou professora universitária há 25 anos, mas nunca deixei a assistência. Poder contribuir para o processo de cura ou de melhora da saúde do meu paciente, colaborando para que este tenha melhor qualidade de vida, me realiza imensamente.”
FUNCIONALIDADE
Muita coisa mudou na Fisioterapia desde que Maria Adelina Oliveira Gomes concluiu sua graduação, há 21 anos, e, por isso, ela também não para. Com pós-graduação em Neurologia Aplicada à Fisioterapia, ela está sempre conectada às novidades da área, sem esquecer o principal. “Em qualquer atendimento, com ou sem patologia, é importante saber quais são os objetivos do paciente. A partir daí, trabalhar junto com ele para alcançá-los”, afirmou.
E não é só o paciente que deve ser envolvido no processo. As orientações para um tratamento de sucesso devem ser direcionadas também à família e a cuidadores dos pacientes. “Às vezes, é necessário traçar o perfil da casa, ver se o tipo de cadeira está adequado, e de que tipo de ajuda a pessoa precisa. Com o envelhecimento da população, há situações em que tem dois idosos em uma casa, um cuidando do outro, e, quando um deles precisa de fisioterapia, o outro acompanha.”
Maria Adelina explica que o estímulo deve ser constante. Ela percebe que, em países norte-americanos e europeus, os fisioterapeutas usam muito equipamento. “Eles são mais técnicos, e acredito que, dessa forma, não se consegue avaliar bem o paciente. O contato direto é muito mais eficiente, por isso os fisioterapeutas brasileiros têm tanto destaque no exterior.”
A fisioterapeuta costuma explicar aos pacientes que temos diferentes entradas. “Tudo que entra pelo tato, olfato, audição e paladar é processado no cérebro e devolvido em movimento. Todos temos essas entradas e, quando esses caminhos sofrem alguma alteração, pode ser demorado recuperá-los. A medicina avança todos os dias, não sabemos qual será a descoberta de amanhã. Por isso, é importante manter o paciente motivado.”
Para Maria Adelina, é importante trabalhar o movimento funcional, abordagem que diz respeito a movimentos mais como levantar-se, sentar-se, alimentar-se, pentear os cabelos, locomover-se, mesmo que com ajuda. “A Organização Mundial de Saúde hoje trabalha com a Classificação Internacional de Funcionalidade, que não é uma classificação de doença, e sim de função”.
A fisioterapeuta destaca ainda que, em Uberlândia, a instalação do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) ajudou na melhoria das condições de trabalho, por meio de mais fiscalização. Ela percebe também que há aproximadamente oito anos quem atua na área privada tem conseguido manter um preço no mesmo nível e que a participação no setor público melhorou. Outro ponto a se comemorar é a resolução publicada em janeiro que reconhece a atuação do fisioterapeuta nas unidades de urgência e emergência.
“A fisioterapia ajuda em áreas que muita gente nem imagina. É mais conhecida pela aplicação junto da neurologia e do esporte, mas temos especialidades como a fisioterapia ortóptica, utilizada para tratar distúrbios visuais. Em Brumadinho, os bombeiros que trabalharam no resgate das vítimas do rompimento da barragem tiveram ajuda de fisioterapeutas uberlandenses voluntários, que preveniam fadiga com trabalhos de alongamento, o que claramente faz diferença para quem está trabalhando sob tanta pressão”, comentou Maria Adelina, que trabalha atualmente no Centro Especializado em Reabilitação (CER), que atende pacientes do SUS.
Ela explica que novidades na área – como gameterapia, que usa jogos interativos para ajudar na reabilitação de um movimento, realidade virtual, com a qual o fisioterapeuta pode simular qualquer situação, o uso de aplicativos e inteligência artificial – são muito bem-vindas, mas não sozinhas. Precisam de um olhar sobre o todo, não só sobre uma fratura, mas o paciente por completo. “O feedback entre médico e fisioterapeuta faz toda a diferença nos resultados a serem alcançados, e o bom profissional tem que escolher suas ferramentas, ter uma boa técnica e não acreditar que o mais novo e mais caro é o melhor, primeiro é preciso se ater às evidências.”
Se você quer manter a qualidade de vida, a fisioterapeuta dá algumas dicas. “Fique atento à postura ao dormir, ao ler um livro ou ao usar smartphones e tablets, mantenha a cabeça alinhada para não aumentar a pressão na vértebra, tenha postura ao se sentar e pratique atividades físicas ao ar livre, o que ajuda muito na sua visão global. Na rua utilize tênis, use chinelos de borracha no banho e sempre que possível ande descalço para trabalhar os receptores que temos nos pés. Você não passa o tempo todo de luvas, por que passaria tempo desnecessário de meias ou sapatos?”
E viva o movimento!