Rússia adverte que envio de militares à Ucrânia configuraria ‘guerra direta’, enquanto UE discute rearmamento em cúpula

A Rússia advertiu nesta quinta-feira que o envio de tropas de países europeus à Ucrânia seria avaliado do mesmo modo que uma mobilização da Otan e que configuraria uma guerra direta com Bruxelas. A declaração russa ocorreu um dia após o presidente da França, Emmanuel Macron, sugerir que o envio de tropas poderia cumprir a garantia de segurança exigida pela Ucrânia para o fim da guerra, e no mesmo dia em que a os líderes da União Europeia participam de uma reunião de cúpula tendo em pauta o rearmamento do continente.

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— Veremos a presença dessas tropas [europeias] em território ucraniano da mesma forma que vimos uma potencial presença da Otan na Ucrânia. […] Isso significaria não um envolvimento supostamente híbrido, mas direto, oficial e não disfarçado de países da Otan em uma guerra contra a Federação Russa — afirmou o chanceler russo, Serguei Lavrov, citado pela agência de notícias Tass nesta quinta.

Uma série de autoridades russas também se manifestaram sobre a possibilidade de ter uma presença de forças europeias mais perto da fronteira. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, classificou a fala de Macron no dia anterior como “extremamente confrontacional” e que não havia como ser interpretada como de um líder que aspira a paz. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que Macron fez declarações “completamente desconectadas da realidade”, chamando o presidente francês de “charlatão”.

Em um discurso na quarta-feira, um dia antes da abertura da cúpula europeia sobre segurança, Macron afirmou que militares europeus poderiam ser enviados à Ucrânia “quando um acordo de paz fosse assinado”, a fim de garantir que os termos fossem respeitados. Ele também descreveu a Rússia de Vladimir Putin como uma “ameaça à França e à Europa” e disse que havia decidido “abrir o debate estratégico” sobre a proteção de aliados no continente por meio dE “dissuasão” — ou seja, das capacidades nucleares francesas.

Premier do Conselho Europeu, António Costa, chega à sede da UE para reunião sobre segurança — Foto: Nicolas Tucat/AFP

O acirramento do discurso de Macron sobre a Rússia não representa uma voz isolada no continente. Com o distanciamento dos EUA durante o governo de Donald Trump e uma guerra no Leste Europeu que não parece próxima de um fim, líderes europeus desembarcaram em Bruxelas nesta quinta com interesse particular em discutir como o continente vai se rearmar e se preparar para uma possível agressão russa.

— A coisa mais importante agora é rearmar a Europa — afirmou a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, ao chegar à reunião de cúpula nesta quinta-feira. — Não acho que tenhamos muito tempo. Então [precisamos] rearmar a Europa: gastar, gastar, gastar em defesa e dissuasão [nuclear].

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Vários líderes europeus desembarcaram na Bélgica com um discurso afinado. Autoridades britânicas ouvidas pela rede pública BBC afirmaram que cerca de 20 países estariam interessados ​​em tomar parte na “Coalizão dos Dispostos”, uma iniciativa mencionada pelo premier do Reino Unido, Keir Starmer, para garantir a segurança da Ucrânia.

O presidente da Lituânia, país báltico em posição ameaçada pela proximidade com a Rússia, Gitanas Nausėda, disse a jornalistas que a Ucrânia estava “ganhando tempo precioso” para o resto da Europa “pagando com sangue”, e que era necessário avançar no tema da defesa coletiva. A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse que finalmente o bloco estava discutindo como manter a Europa de pé.

— Este é um dia em que tudo pode mudar e provavelmente mudará, no que diz respeito à determinação da Europa em [se] rearmar e a indústria de defesa e nossa prontidão para enfrentar esse desafio russo ao mundo — disse o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, cujo país faz fronteira com a Ucrânia.

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Analistas apontam que, de certa forma, a reunião marca o início de um novo capítulo para a União Europeia — criada para fomentar a cooperação e a paz, e agora forçado a contemplar seu papel em um mundo dilacerado pelo conflito e pela animosidade. Os líderes europeus precisarão equilibrar cuidadosamente como apoiar a Ucrânia e financiar o aumento de seus gastos militares.

— Há claramente a sensação de que, em um momento como este, a Europa precisa se preparar para o pior — disse Jacob Funk Kirkegaard, pesquisador sênior do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas, ao New York Times.

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Em menos de dois meses, o presidente americano, Donald Trump, mudou o jogo quando se trata de segurança na Europa. Exigindo uma paz rápida na Ucrânia, ele pressiona o presidente Volodymyr Zelensky em público e iniciou conversas com a Rússia sem envolver diretamente a Europa ou a Ucrânia. Ao mesmo tempo, insistiu que os países europeus gastem mais com sua própria defesa.

Esse golpe duplo — e a desastrosa reunião na semana passada entre Trump e Zelensky — forçou os líderes europeus a agirem com uma nova urgência. O presidente ucraniano foi convidado e compareceu a Bruxelas, agradecendo aos vizinhos pelo apoio no momento de crise.

Presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e dos EUA, Donald Trump, discutem durante encontro na Casa Branca em 28 de fevereiro de 2025 — Foto: SAUL LOEB / AFP
Presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e dos EUA, Donald Trump, discutem durante encontro na Casa Branca em 28 de fevereiro de 2025 — Foto: SAUL LOEB / AFP

“Estamos muito agradecidos por não estarmos sozinhos. E não são palavras; sentimos profundamente. É muito importante que [a Europa] tenha enviado um sinal forte aos ucranianos”, disse.

Apesar da cooperação crescente entre os países, o bloco continua a lutar para falar com uma só voz sobre a Ucrânia, em um momento em que Viktor Orban, o primeiro-ministro da Hungria, tem sido vocal em seu apoio a Trump e em seu desacordo com seus colegas europeus sobre a Ucrânia. Também integra a oposição dentro do bloco, o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico. (Com NYT e AFP)

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  • Redação Uberlândia no Foco

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