8 de julho é o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, instituído pelas leis 10.221 e 11.807. A data foi escolhida em homenagem à fundação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 8 de julho de 1948. O objetivo é destacar a importância da ciência para a sociedade e divulgar os trabalhos feitos pelos pesquisadores brasileiros. Em comemoração ao 8 de julho, em todas as segundas-feiras deste mês, o portal Comunica UFU publica a série “Cientistas da UFU”, em que apresentamos alguns de nossos pesquisadores em diferentes etapas de formação. Acompanhe!
Numa tarde de segunda-feira, especificamente na sala 216 do Laboratório de Pesquisa em Antivirais do Campus Umuarama da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), uma moça de quase 1,80 metro, cabelos cacheados iluminados e de risada alta mexe concentrada em algumas placas repletas de células. Com as mãos protegidas por uma luva rosa choque, ela desliza os objetos um sobre o outro, analisa, anota, leva ao microscópio eletrônico e reinicia o trabalho com a placa seguinte.
Mikaela Marinho, ou Mika, para os mais próximos, utiliza de algumas frases adjetivadas para se definir. Dentre elas estão: mãe de pet, mestranda em Biomedicina e, claro, pesquisadora do vírus mayaro — função que tem tomado a maior parte dos seus dias, semanas e meses há pelo menos um ano.
Ela, nascida na cidade com nome dedicado às Sete Lagoas que compõem as suas redondezas, localizada a 72Km de Belo Horizonte (MG), conta que desde criança foi estimulada pelos seus pais a ser alguém na vida. Aos trancos e barrancos conseguiu ter acesso a diversas oportunidades e, em 2018, iniciou o que ela considera ser uma das partes mais importantes da sua vida, a graduação em Biomedicina.
Quando a luva rosa choque ainda não estava em suas mãos, mas as máscaras se tornaram um item básico fora de casa, a pós-graduanda não poupou caracteres para escrever um e-mail à professora Ana Carolina Jardim — adjunta ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICBIM/UFU). Naquela época, Marinho queria fazer parte do Laboratório de Virologia e, juntamente da solicitação feita, dava inúmeras alternativas de como poderia ser incorporada a equipe.
Hoje, mestranda na área e no laboratório que sempre sonhou, a pesquisadora é lembrada pelas companheiras de bancada como alguém organizada e proativa.
“A Mika foi minha aluna de iniciação científica e eu praticamente não precisei orientar ela. Às vezes surgia alguma questão para ser resolvida e, quando eu iria começar a pesquisar artigos, ela já surgia com as soluções e inúmeras referências”, conta Giulia Ferreira, que também faz parte do Laboratório de Pesquisa em Antivirais.
Isolado pela primeira vez em 1954 e tendo surto no Brasil em 1955 às margens do rio Guamá, próximo de Belém (PA), a Febre do Mayaro, sobre a qual Marinho se debruça em sua pesquisa, é uma doença infecciosa. Causada pelo vírus Mayaro (MAYV) e transmitida por mosquitos como Culex, Sabethes, Psorophora, Coquillettidia e Aedes, o ciclo da Febre do Mayaro é semelhante ao da Febre Amarela Silvestre.
A transmissão do vírus ocorre quando o indivíduo é picado por mosquitos fêmeas que se infectam ao se alimentar do sangue de primatas (macacos) ou humanos infectados com o MAYV, provocando sintomas como febre aguda, dor de cabeça, dor no corpo e manchas avermelhadas na pele. Além disso, em casos mais graves, é possível identificar dor nas articulações, inchaço e inflamação no cérebro.
“Com as mudanças climáticas e o desmatamento, observamos um aumento no número de casos de Febre do Mayaro — causada pelo transbordamento do vírus. Então, encontramos incidentes em Goiânia (GO) de um problema que é comum ao norte do Brasil e da América Central. Por ser uma doença pouco identificada e que não faz parte do cotidiano das pessoas, os casos podem se tornar bastante agravados”, explica a pesquisadora.
Como mulher negra, ocupar certos espaços acadêmicos e em sociedade representa para a jovem a confirmação do seu esforço até aqui e mostra para o seu eu do passado que, ao contrário do que muitos diziam, ela pode chegar aonde quiser. Para o futuro, Marinho espera continuar agregando para a ciência através de achados que possibilitem uma melhora da saúde humana e construir conhecimentos que possam ser usados e compartilhados com as gerações futuras.
“Para outras meninas que, como eu, talvez não acreditassem que pudessem chegar em determinados lugares, eu desejo que vocês confiem no potencial de vocês e arrisquem. Não tentar pode ser o pior dos fracassos”, finaliza Marinho.
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