
As pessoas nunca têm a real dimensão daquilo que diz. Palavras afundam e palavras edificam. O interlocutor fala o que lhe cabe, quem ouve, compreende o que sua história e construção permite.
Certa vez, questionei a um imediato superior, como sua atitude era passiva, onde eu esperei ser validada e amparada. Indiretamente, ele me respondeu com essa frase: “A questão é como diz se diz: O problema é que sua mãe te fez fraca! ”. Posso apostar que ele acreditou que eu nem entenderia o que simbolicamente o que ele queria expor.
E foi, acho, que até o momento, um dos maiores insights que eu precisava na vida. E tem sido, a grande chave de mudança.
Eu cresci numa família muito pobre. Um lugar onde eu constantemente era vítima de bullying, ridicularizada, dada como indisciplinada, bocuda, insubordinada e desrespeitosa. Porque são pessoas que vieram do serviço braçal, não aprenderam que ser questionador é necessário para mudar realidades. Que descortinar o mundo pode sim, ser seguro! Que ‘quem tem boca vai à Roma’ não é para ser devorado por leões, mas, porque sabe perguntar sobre o caminho. Como as pessoas tentaram infinitas vezes me enquadrar e trancar numa caixinha… Como era necessário me calar, porque eu causava angustia e estranheza onde as pessoas só queriam a paz de serem servidas, como eram servas e escravas.
Uma outra determinada época, eu escrevia uma ‘coluna’ no Instagram: ‘O Boletim da Crise, por Jaqueline Martins’. O boletim da crise era sarcástico, poético, inteligente, informativo, provocava reflexão e descortinava nas pessoas a vontade de protagonizar. E eu já vinha no processo de me perder de mim, após tantas quedas. Então, outro superior imediato, numa função que nada tinha a ver com isso, que outrora elogiou e inclusive disse que não perdia um, me chamou a atenção ferrenhamente e disse ser importante que naquele momento eu parasse com aquilo. Foi como me tirar a capacidade de produzir. Como arrancar o brinquedo da minha mão e guardar em cima do guarda-roupas. Eu não consegui escrever mais. E se eu escrevesse, me parecia parco, esdruxulo e incompreensível aos outros. Nesse dia, eu deixei outra pessoa ditar quem eu podia ser. Que danoso foi!
Voltando então, a como ‘minha mãe me fez fraca’, foi quando eu entendi, que eu tinha tanto medo das consequências, das possíveis perdas e sensações, que eu não me dei conta, que eles não traziam a vara da goiabeira na mão. Eles jamais poderiam me machucar. Minha história me faz fraca, no ponto em que eu fiz do que me fizeram o que eles esperavam fazer.
Me fez fraca, me deixar enxergar como alguém fraca e sem autonomia nas minhas resoluções pessoais.
Me fez fraca, ao ponto de entender que eu deveria ser subserviente a um sistema fadado ao meu descontentamento de perceber que existem vários pesos e diversas medidas conforme interesse. E que, não sou eu, quem vai mudar o mundo. Eu não tenho o potencial e a obrigação de ensinar as pessoas a serem melhores.
Hoje eu sei que sou responsável exclusivamente pelos meus atos.
Sou responsável por aquilo que eu compreendo, aprendo, ofereço e aceito.
Sou digna daquilo que há de melhor nessa vida, em cada área.
Sou merecedora de dias melhores.
Sou eticamente programada para ser melhor que eu fui e moralmente para oferecer meu melhor de dentro para fora.
Quero sim um mundo melhor, mas, minhas costas são pequenas para carrega-lo sozinha.
E no final das contas, o mundo não é meu.