Um dos piores filmes dos últimos anos se tornou um fenômeno dentro da Netflix, liderando a lista de produções mais assistidas do streaming desde que chegou à plataforma. Pica-Pau: O Filme foi adicionado ao catálogo da plataforma no último dia 1º de julho e, desde então, reina soberano entre o público.
Lançado em 2017, o live-action de Pica-Pau foi um verdadeiro fracasso de crítica e público. A ideia era pegar carona na nostalgia de quem cresceu com os desenhos animados, mas a nova história não agradou — pelo menos nos cinemas. Tanto que arrecadou apenas US$ 15,3 milhões em bilheteria em todo o mundo, um número considerado baixo mesmo para seu baixo orçamento, estimado em US$ 10 milhões.
Só que a pancada mesmo está na recepção da crítica e do próprio público. Pica-Pau: O Filme tem uma das menores notas do Rotten Tomatoes, site que agrega críticas de especialistas e do próprio público. Ele tem apenas 13% de aprovação entre os críticos de todo o mundo de 34% entre os usuários do site, o que mostra bem o quanto a ideia de misturar o personagem com humanos reais não deu certo.
Na trama, uma família compra um terreno no meio de uma área de floresta e decide derrubar toda a vegetação para construir uma enorme mansão. O problema é que o empreendimento imobiliário vai afetar a casa do Pica-Pau, que decide transformar a vida dos humanos um inferno para fazê-los ir embora.
O consenso geral é que o humor não funciona, já que as piadas do pássaro azul são tão exageradas quanto bobas até mesmo para crianças muito pequenas. É isso fica ainda pior porque é algo que contamina as atuações. “A atuação é cartunesca e as piadas são, em sua maioria, lamentáveis, indicando que as brincadeiras do Pica-Pau são melhor aproveitadas — ou aturadas — em menores doses” escreve o crítico do Movie Talk, Jason Best.
Por que Pica-Pau: O Filme está fazendo sucesso na Netflix?
É difícil apontar uma única razão para explicar por que um filme tão criticado tenha alcançado o topo da lista de mais vistos da Netflix. Contudo, é possível encontrar algumas razões que ajudam a entender o que aconteceu.
O primeiro ponto é o fato de que conteúdos infantis sempre tiveram muita força dentro do streaming. Basta ver como novelas infantis volta e meia aparecem na lista de séries mais assistidas da plataforma, mesmo não recebendo novos episódios há anos. Maísa Silva já é uma mulher adulta protagonizando diversos filmes e seriados, mas ainda aparece como a criança de 10 anos na capa de Carrossel, por exemplo.
Quem tem criança em casa sabe bem como é isso. É muito comum pais deixarem filmes e desenhos passando na TV para entreter os pequenos, da mesma forma que eles não acham ruim ver e rever o mesmo conteúdo várias e várias vezes. Um looping que sempre ajuda a impulsionar esses conteúdos no streaming. Adicione ainda o fato de que estamos entrando em uma época de férias e pronto.
Além disso, há a própria nostalgia. O Pica-Pau é um personagem que cruzou gerações e que foi assistido por pessoas das mais diferentes épocas no Brasil. Ele foi o primeiro desenho animado a ser exibido no país, em 1950, pela extinta TV Tupi. De lá para cá, foram mais de 70 anos com diferentes versões do pássaro em reprises em diferentes canais.
É uma memória afetiva muito eficiente. Tanto que Pica-Pau: O Filme foi produzido a partir dessa percepção. A Universal Pictures mirou principalmente na América Latina como seu principal mercado por causa desse fator saudosista. É por essa razão que a brasileira Thaila Ayala foi escolhida para protagonizar a história ao lado de Timothy Omundson (Psych).
Assim, é fácil imaginar pais colocando o filme para seus filhos assistirem naquela ideia de “era isso o que eu assistia na sua idade” — um sentimento que o mercado da nostalgia sempre explora muito bem, como a recente onda de remakes da Disney vem mostrando.