Lançado no dia 30 de novembro de 2022, o ChatGPT tornou-se um dos assuntos mais comentados e discutidos da atualidade. A inteligência artificial (IA) criada pela OpenAI utiliza redes neurais de transformadores para gerar respostas coerentes em texto, conforme o que é perguntado ou solicitado. Logo, essa revolução se tornou pauta de como ela pode transformar e afetar o aprendizado e a educação.
Mas será que a inteligência artificial caiu como um “meteoro” na sociedade? Bom, se você ouviu o episódio #39 do podcast “Ciência ao Pé do Ouvido”, você sabe que um meteoro não chega ao solo e, sim, um meteorito. Sabe também que a probabilidade de uma pessoa ser atingida por um meteorito é de uma em um milhão e seiscentos mil. Logo, a probabilidade das IAs terem chegado à sociedade só agora, como um “meteoro”, é bem baixa.
A alusão aos corpos rochosos não é à toa. O título desta reportagem foi um questionamento feito por Lúcia Santaella, pesquisadora e professora nos cursos de pós-graduação em Comunicação e Semiótica e em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), durante o evento “Inteligências em Rede na Educação Superior: Impactos do ChatGPT e outras IAs”.
Promovido pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Uberlândia (Dirbi/UFU), em parceria com a Editora da UFU (Edufu), a roda de conversa aconteceu no dia 26 de junho. Além de Santaella, participaram Alexandre Cardoso, professor e pesquisador da Faculdade Engenharia Elétrica da UFU; Aléxia Pádua, professora na UFU e historiadora com doutorado em Educação; e Mariano Pimentel, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), que realiza pesquisas em sistemas de informação, educação e cibercultura.
O objetivo do evento foi debater sobre os impactos do ChatGPT e outras inteligências artificiais não apenas na educação superior, mas em todos os âmbitos de aprendizado. Debate, porque ainda não há uma resposta definitiva sobre os impactos positivos e/ou negativos dessas tecnologias, apenas reflexões.
Por que o ChatGPT se popularizou tanto?
Como qualquer tecnologia, a inteligência artificial criada pela OpenAI se popularizou, primeiramente, pela sua inovação, mas também pelo seu fácil acesso e por produzir efeitos reais na sociedade com resultados. Porém, as IAs não chegaram apenas agora. “Eu tenho praticado muito o que eu chamo de uma metodologia de precaução. Ou seja, recolher para melhor saltar. Evitar que a gente veja a inteligência artificial no seu estado atual como algo que caiu de paraquedas. Não. A pesquisa em inteligência artificial já tem 70 anos”, apontou Santaella.
A pesquisadora lembra ainda como as produções estão híbridas (humano e IA) desde o surgimento da câmera fotográfica, em 1839. Na época, uma questão era se a foto deveria ser considerada arte ou não, semelhante ao que vemos hoje em relação a textos produzidos com o apoio do ChatGPT. Eles são originais? Plágios? Existe uma co-autoria humano-IA?
“A gente precisa se dar conta que a inteligência artificial agora chegou o mais próximo que ela podia do coração humano. O ser humano é constituído pela linguagem, é o único animal que fala, e agora nós estamos diante de uma inteligência artificial que [realmente] é inteligente”. – Lúcia Santaella
Cardoso destacou que a UFU, há anos, tem trabalhado com tecnologia e discutido sobre IAs. O próprio pesquisador coordena o Grupo de Realidade Virtual e Aumentada (GRVA), vinculado à Faculdade de Engenharia Elétrica. “A gente está na Universidade Federal de Uberlândia desde 1989. Já são 34 anos trabalhando com tecnologia e, particularmente, discutindo interfaces mediadas por ambientes que simulam a representação real, os ambientes virtuais, dando a condição da imersão e, a partir daí, a imersão”, relembrou o professor.
Hibridização
Durante a pandemia de covid-19, o termo “híbrido” se popularizou devido ao formato de trabalho que combina a atuação presencial com a remota. Para quem trabalha ou estuda genética, o termo não é algo novo. Ele significa um cruzamento genético entre duas espécies distintas, sejam vegetais ou animais. Mas, agora, ao se pensar em produção e tecnologia, percebemos uma hibridização do humano com a inteligência artificial.
“É um movimento que a gente vem chamando de hibridização da nossa cognição com a das máquinas, com a das inteligências artificiais generativas, que eu prefiro chamar de criativas, que as pessoas entendem um pouco melhor”, levantou Pimentel. A IA generativa é aquela que tem capacidade de aprender padrões complexos de comportamento a partir de uma base de dados, semelhante ao ChatGPT. Antes desse modelo, eram conhecidas as chamadas IAs primitivas, que têm uma capacidade menor, como o algoritmo das redes sociais, por exemplo, que seleciona alguns conteúdos.
Santaella apontou que o salto da inteligência artificial primitiva para a generativa não veio do acaso e não vai parar: “O ChatGPT, que estamos discutindo hoje, é a ponta do iceberg. Há uma série de outros sistemas que já estão sendo utilizados na educação. As universidades precisam acordar. As escolas precisam acordar, porque o ChatGPT vai ter uma influência muito maior do ensino médio para o superior, porque é onde as pessoas estão gabaritadas para aquilo que, 30 anos atrás, a gente chamava de navegação”.
Por fim, Pádua, que além de pesquisadora, ministra a disciplina de Tecnologias Contemporâneas em Comunicação e Educação no curso de Jornalismo da UFU, destaca a importância da reflexão na relação das IAs com a realidade da educação no Brasil. De acordo com ela, não se trata de responsabilizar professores mal remunerados e sobrecarregados e, sim, pensar sobre como a prática docente está impactada por essas tecnologias e como não podemos torná-las mais um fator de exclusão na educação.
Você pode conferir a roda de conversa completa abaixo ou no Canal da UFU no YouTube. Este foi o primeiro de uma série de eventos promovidos pela UFU para discutir inteligências artificiais. Se você gosta de tecnologia, leia sobre o curioso e imersivo metaverso.
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