
O som dos maracás ressoa alto no Centro Administrativo da Bahia (Cab), em Salvador, com a sétima edição do Acampamento Terra Livre (ATL) dos Povos Indígenas do Estado da Bahia. O encontro, que vai até a próxima quinta-feira (6), reúne mais de 1.800 indígenas de diversas etnias e cerca de 300 representantes de movimentos sociais. Com o tema Clima e Território: duas lutas, um direito, a iniciativa busca construir um espaço de articulação, resistência e diálogo com o poder público para fortalecer a luta dos povos originários em defesa da demarcação dos seus territórios e do acesso a políticas públicas.
O ATL teve início no domingo (2), com a chegada das delegações, mas a abertura oficial ocorreu na manhã desta segunda-feira (3). No segundo estado com a maior população indígena do país, de acordo com o Censo 2022, a programação do encontro reúne mesas de debate, espaços culturais e oficinas que expressam a diversidade, os saberes e a resistência dos mais de 33 povos originários existentes na Bahia.
“Nossos povos caminham lutando pela demarcação das suas terras, pelo respeito às nossas tradições, pelas nossas decisões políticas. O nosso Acampamento Terra Livre mostra a nossa força, nossa força coletiva, que tanto nos dá sabedoria, nos une e que traz com os nossos ancestrais as estratégias contemporâneas para a nossa resistência”, ressaltou Patrícia Pankararé, cocoordenadora do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), que organiza o encontro.
Ainda pela manhã, lideranças dos territórios, parceiros indigenistas e representantes do poder público participaram de uma mesa de diálogo em que foram apontados alguns dos avanços e desafios da pauta do movimento indígena no último período. Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), o papel dos povos originários na preservação do meio ambiente foi um dos principais pontos levantados.
“O nosso ATL, quando traz aqui clima e territórios, vem dizer o que os povos indígenas têm a ensinar, em ano de COP, como se cuida da nossa natureza, como se alimenta o povo de verdade e como se respeita os povos originários desse país”, apontou Fabya Reis, secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado da Bahia.

Marta Mamédio, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), também destacou que o enfrentamento à emergência climática só será possível se houver demarcação dos territórios indígenas.
“O agro-hidro-minério negócio está causando essa crise climática. Mas do outro lado, os povos indígenas têm resistido e cuidado desse lugar que a gente habita. São os povos que estão no Semiárido, os povos que estão na Caatinga, no Norte, na Chapada, no Sudoeste baiano, que têm resistido. São os povos do Oeste que têm cuidado do Cerrado. Os do Sul e Extremo Sul que têm cuidado da Mata Atlântica. Então, não é possível falar sobre crise climática sem também falar sobre demarcação territorial.”
“Que o presidente da República possa declarar o território Tupinambá de Belmonte, declarar o território Tupinambá de Olivença, o território Pataxó. Para que não esqueçamos que, sem terra demarcada, não haverá clima bom”, reforçou Agnaldo Pataxó Hã Hã Hãe, coordenador do Mupoiba.
Durante os próximos dias, o ATL segue com debates sobre temas como acesso a políticas sociais, segurança alimentar e uma audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) sobre a garantia de direitos dos povos indígenas no estado. Além disso, também será realizado um Júri Ancestral com julgamento simbólico do Movimento Invasão Zero, grupo ruralista apontado como responsável por ações violentas contra povos indígenas e comunidades rurais, especialmente no Sul e Extremo Sul da Bahia.
Ao longo do encontro, também está aberta ao público uma Feira de Artesanato Indígena, que conta expositores de diversos povos da Bahia, e busca fortalecer a identidade cultural e a economia criativa dos artesãos. A Feira se localiza ao lado da Alba, no Centro Administrativo da Bahia, onde também está montado o acampamento.